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No ritmo da 'Taquicardia'

Ana Abbott e o monólogo "Taquicardia" iniciam curta temporada em palcos cariocas | Foto: Peterson Pessoa/Divulgação

"Taquicardia", projeto artístico da atriz Ana Abbott, em parceria com a diretora Luciana Fróes e a dramaturga Nanda Felix, volta aos palcos cariocas. O monólogo mescla o relato de si e o cruzamento narrativo da ficção com a biografia afetiva da performer a partir da morte de seu pai. Baseado em fatos reais, Taquicardia é composto de fragmentos de memória e ficção, friccionando poesia e senso de humor. O espetáculo fica em cartaz entre os dias 12 e 28 de janeiro, no Teatro Sérgio Porto, no Humaitá.

A peça conta a história de uma mulher que recebe a notícia de que a sua gata pode ter desaparecido e resolve não mais voltar para casa. Assim, ela não terá que lidar com a possível dor. "Taquicardia é um espetáculo que fala de uma fuga, mas uma fuga para dentro de si, quanto mais nossa personagem foge, mais se aproxima da sua própria história e pode finalmente sentir. Enquanto ela foge, elabora suas perdas e seus desejos mais profundos e nos convida a fazer o mesmo", explica a dramaturga Nanda Félix.

A proposta investe no tensionamento arte-vida, afeto-fato, presença-ausência, e propõe como força mobilizadora da experiência artística, o relato de si, e o cruzamento narrativo da ficção com a biografia afetiva da performer a partir da morte de seu pai.

"Taquicardia é uma música interminável atravessando tempos, afetos e memórias. Uma música que me persegue. Hoje percebo que de algum modo ela sempre esteve presente nos meus trabalhos. Taquicardia é uma travessia às avessas pela vida, histórias pessoais, memórias inventadas. É muito importante estar no palco partilhando um processo intenso de elaboração dos acontecimentos e das perdas que vivi num passado recente, com um olhar irreverente na arte e na vida que sempre foi minha escolha, e receber com alegria a empatia do público", comenta Ana Abbott.

O texto do espetáculo - construído durante os ensaios - parte de um fato quase cotidiano: uma mulher descobre, por uma mensagem de texto, que sua gata talvez tenha sumido. A mulher não sabe ao certo se a gata fugiu ou se está escondida. O medo de descobrir o que de fato aconteceu com a gata faz com que essa mulher tome uma decisão inusitada: não voltará para casa, pois assim não terá que lidar com o possível desaparecimento da gata.

"O que está em jogo é o enfrentamento da performer com a possibilidade da perda, novamente. A mulher, Ana, perdeu o pai, uma amiga e o cachorro num espaço curto de tempo e, ainda de luto, tentando compreender o que ficou depois de tantas perdas, não concebe ter que entrar em contato com esse novo desaparecimento e foge", completa Ana Abbott.

Para a diretora do espetáculo, Luciana Fróes, além da peça contar histórias que vão da virtualidade ao mundo real, o espaço que ela será apresentada também tem sua mística, se tornando um dos teatros mais cariocas do Rio de Janeiro. "Esta peça foi pensada com inúmeros objetos. Um sofá, um aquário, uma televisão. Assim como nossa memória, algumas partes tornam-se desnecessárias deixando um buraco ou sendo preenchidas pela imaginação. A fita crepe subindo pelas paredes lembra o rascunho de uma casa que se apagou. Taquicardia nasce como um quebra cabeça, um processo íntimo de histórias reais e fictícias que relatam fugas, ausências, buracos e desaparecimentos. É um prazer ter o Sérgio Porto como chão", analisa.

O projeto traz uma equipe de criação com nomes de excelência no campo das artes. Além das já citadas Ana Abbott, Nanda Félix e Luciana Fróes, estão Rodrigo Marçal na trilha sonora, Julia Deccache na direção de arte e Pojucan na criação gráfica.

Durante a apresentação, Ana Abbott vai do drama à comédia, em um misto de sentimentos e acontecimentos cotidianos, resistindo a ser dito, ele bóia no corpo, no meio do peito, criando ali um refúgio e também um buraco. Taquicardia fala sobre a captura desse acontecimento [desaparecimento] que acomete todos, tentando fugir dele, dele, ou dele.

"Num país como o Brasil, numa cultura onde se cultua o consumo de corpos e relações, o cinismo e a falta de cuidado, desaparecem amores, amigos, e também, com a historia que fingimos não carregar, desaparecem, ainda hoje e todos os dias, filhos, crianças, adultos, pobres, negros, e nossos pais, e mães também. Quem encarar não fugir desse buraco TEM que ir ver essa peça", convida a escritora, pesquisadora e professora da PUC Rio, Ana Kiffer.

Atriz, humorista e multiartista, Ana Abott recentemente protagonizou o longa "Praia do Silencio", de Francisco Garcia, exibido na 46ª Mostra Internacional de Cinema. Por esse trabalho, recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival Guarnicê. Fez a 2ª temporada de "Desalma", disponível na Globoplay, e "Orfaos da Terra" (Globo). No cinema fez filmes de Luiz Rosemberg Filho, Paulo Halm, Maria Altberg, Rodrigo Lima, Bruno Safadi, Janaina Diniz, Andre Klotzel entre outrxs. Foi integrante do Teatro Oficina, de José Celso Martinez Corrêa. No teatro trabalhou com o Grupo Galpao, Cia dos Atores, Domingos Oliveira, Ana Kfouri, Leonardo Netto, Jo Bilac, entre outros. Na internet criou o Cabeca Barulho, canal de humor. Recentemente esteve em turnê com a personagem Rainha Elisabet na peça Mary Stuart, ao lado de Virgínia Cavendish, direção de Nelson Baskerville, que segue em nova turnê em 2024.

SERVIÇO

TAQUICARDIA

Teatro Sérgio Porto (Rua Visconde de Silva, ao lado prédio 292 - Humaitá)

De 12 a 28/1, às sextas e sábados (19h) e domingos (18h)

Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)

 

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