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Sexualidade exposta no palco

O espetáculo 'Gênero Livre' inspira-se na busca de Christiana Guinle para entender sua sexualidade | Foto: Junior Mandriola/Divulgação

O monólogo "Gênero: livre", com a atriz Christiana Guinle, encerra temporada nesta quinta-feira (8), no Teatro Glauce Rocha. Inspirada na vida da artista, que tem gênero fluido, a peça reflete sobre padrões de comportamento masculinos e femininos impostos pela sociedade.

Com texto de Pedro Henrique Lopes e direção de Ernesto Piccolo, a montagem reúne biografias, reportagens, músicas e relatos pessoais da atriz e da equipe criativa para construir uma narrativa sobre gênero, que vai dos preconceitos arraigados no nosso dia a dia aos debates sobre liberdade em um mundo pós-gênero.

O projeto teve início na pandemia, quando o diretor e a atriz, amigos há mais de quatro décadas, decidiram trabalhar juntos pela primeira vez. Christiana sugeriu um projeto que resgatasse o processo que a levou ao entendimento de sua própria identidade sexual e de gênero para falar de um mundo que evoluiu nas discussões sobre o tema, mas ainda insiste em nos colocar em rótulos.

"Na minha juventude eu não tinha muitas referências de pessoas que se identificassem como fluidas. No máximo, tinham as pessoas andróginas. Eu tentava entender minha própria identidade. A descoberta da não-binaridade e a possibilidade de fluir entre os gêneros foram libertadoramente perturbadoras. Contei essa história para o Pedro, que usou as minhas memórias para escrever um espetáculo sobre o respeito às nossas próprias individualidades. Queremos falar do corpo sem gênero. Das roupas sem gênero. Do sexo sem gênero", diz.

"As pautas identitárias no teatro são um reflexo das discussões frequentes na sociedade. As pessoas querem ver em cena narrativas que falem da igualdade de gênero, combate ao racismo, sexualidade e preservação ambiental. Mas as discussões sobre gênero fluido ainda não são tão frequentes em cena", analisa o autor Pedro Henrique Lopes.

A peça passeia não só pela trajetória de Christiana, mas resgata personagens importantes no debate da fluidez de gênero: Thomas Baty (1869-1954), umas das primeiras pessoas documentadas como "não-binárie"; a atriz Rogéria, com quem Christiana trabalhou e se tornou amiga; Kaká Di Polly, ícone drag dos anos 1980 e 90; a modelo trans Roberta Close; e muitas outras pessoas que contribuíram para a (des)construção social brasileira de gênero. Todos eles estão em cena através das falas e da vivência da atriz.

"O teatro que debate assuntos sociais importantes me interessa muito, principalmente quando a gente está falando da liberdade, do livre-arbítrio, de ser quem a gente é de verdade", observa Ernesto Piccolo. "Ainda temos muito que evoluir nessa questão, mas já vemos muito mais espaço para o debate de gênero hoje do que décadas atrás", completa o diretor.

SERVIÇO

GÊNERO LIVRE

Teatro Glauce Rocha (Av. Rio Branco, 179, Centro)

Até 8/2, às quartas e quintas (19h)

Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)

 

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