Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TEATRO - O VENENO DO TEATRO: O antídoto não existe

Maurício Machado e Osmar Prado em 'O Veneno do Teatro', texto do catalão | Foto: Priscila Prade/Divulgação

 

"Veneno do Teatro", "El Veri del Teatre", escrita por Rodolfo Sirera em catalão, estreia em 1979 em Barcelona e, três anos depois, chega à Madri em sua versão castelhana. Sirera, nascido em março de 1948, foi apresentado absolutamente pelo teatro, fato que lhe causa certa angústia. "Me pergunto se ter essa Vida, com maiúscula, é algo traumático. Você absorve as 24 horas do dia. O mundo de relações, de amizade, é um mundo pequeno e fechado. Não sabes se quer descansar à margem do teatro", confessa o dramaturgo.

A peça, passada no final do século 18, é um jogo de esgrima dos dois personagens, interpretados por Osmar Prado e Maurício Machado, dirigidos por Eduardo Figueiredo que consegue manter os marcos da versão original. Sirera destaca sua inspiração no "Comediante", de Diderot, e o aspecto de uma peça que acontece no fio da navalha com os dois personagens. "Não é uma obra escrita, em princípio, para o teatro, pois foi criada para o circuito de televisão da Catalunha e Baleares, onde aconteceu. É o encontro de dois personagens, um aristocrata e um comediante, ambientado nos anos que antecederam a Revolução Francesa", conta Sirera.

A peça é o enorme embate entre um pretenso criador, o Barão interpretado brilhantemente por Osmar Prado e a criatura, um ator personagem de que se vê envolvido em uma trama na qual se disputa vida e morte, com um cenário de uma possível futura encenação sobre o tema da morte. Transgridem-se todas normas. Da vida, da ética, do relacionamento, da contratação e notadamente do fazer teatral. É um grande Guignol, um palco de espetáculos focados em violência, morte, tortura e suplício para aterrorizar suas plateias.

É livre o sadismo, o jogo perverso, a dominação, o ataque tudo em nome do que é a construção de uma peça teatral. O que mais impressiona, na altíssima qualidade do texto, é a capacidade de deixar a plateia em suspense, finalmente boquiaberta com a capacidade única de o teatro nos fazer acreditar.

SERVIÇO

O VENENO DO TEATRO

Teatro Firjan SESI Centro (Av. Graça Aranha, 1, Centro) | Até 2/6, às quintas e sextas (19h) e sábados e domingos (18h)

Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)