Há quem diga que traduzir é um ato de trair. Essa tradução, quando se fala em adaptação, pode ter o mesmo sentido. É difícil se conseguir colocar o mesmo sentimento, a mesma força em código diferente. Há um caminho, quando o adaptador conhece na própria pele as mesmas dores, sobretudo, que são o ponto de partida da obra. Esse é o ponto positivo de "Tres irmãos", da Cia Cerne, que a partir do romance "Seara Vermelha", de Jorge Amado, constrói um espetáculo que recebeu o Premio Shell de Melhor Dramaturgia.
A montagem segue com as pesquisas da companhia, iniciada em sua última obra adulta, "Turmalina 18-50", sobre os grandes nomes que passaram por sua cidade-sede, São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Desta vez, a companhia se debruça pela passagem de Jorge Amado por Meriti, local onde morou quando exerceu o mandato de deputado federal, entre 1946 e 1948. Jorge não apenas morou em São João, mas presenciou de perto o próprio nascimento da cidade, uma vez que sua emancipação ocorreu em 1947. Nesse período, Jorge escreveu "Seara Vermelha".
O êxodo e as agruras dos nordestinos estão na construção de "Três Irmãos", com dramaturgia e direção de Vinicius Baião elenco formado por Elizandra Souza, Gabriela Estolano, Higor Nery, Leandro Fazolla, Madson Vilela, Rohan Baruck e Diogo Nunes. A apresentação dos conflitos das escolhas de cada irmão se faz na relação do jogo dos diálogos e do eficiente entrelaçamento da história.
As metáforas do destino dos irmãos - um policial, um cangaceiro e um ativista político - retratam as possibilitadas restritas de se ter uma vida digna.
SERVIÇO
TRÊS IRMÃOS
Teatro Municipal Café Pequeno (Av. Ataulfo de Paiva, 269 - Leblon)
Até 19/5, sextas a sábados (20h) e domingos (19h)
Ingressos: R$ 50 e R$ 25 (meia-entrada e lista amiga)
