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Voltando a Beckett

Na nova montagem de 'Fim de Partida', o diretor mineiro apresenta um Beckett em tons de comédia | Foto: André Veloso/Divulgação

Ao completar 80 anos de vida, o icônico diretor mineiro Eid Ribeiro retorna a um dos mais conhecidos textos de Samuel Beckett "Fim de Partida", peça já levada aos palcos por ele em 1988, que na época mergulhou no mundo sombrio e angustiante como Beckett a concebeu.

A diferença agora é que Eid quis partir para a diversão, pelo olhar do palhaço. Ele resolveu rir do fim do mundo. Eid, que é um dos mais respeitados artistas do teatro brasileiro, inova ao revisitar o espetáculo tendo desta vez dois palhaços da Trupe Garnizé como protagonistas: Francisco Dornellas e seu filho Victor, acompanhados de João Santos e Marina Viana, em participações especiais.

Escrito num contexto pós-catástrofes, após duas guerras mundiais, sobre os destroços e os entulhos do nazifascismo, Beckett desloca o olhar sobre este plano geral de destruição e envenenamento social e escreve, entre 1954 e 1956, essa peça sobre as relações tóxicas, servis e parentais, em que, no espaço fechado de um bunker, as duas personagens principais, Hamm e Clov, agem e dialogam num jogo de repetições próprio da comédia burlesca.

A nova encenação, porém, traz um Beckett com tons de comédia, sem deixar de ser profundamente humano. No palco, Francisco Dornellas vive Hamm e contorna suas dificuldades motoras e cognitivas, ocasionadas por dois AVCs recentes. Para superar os desafios, Chico conta com recursos tecnológicos e o auxílio do filho, Victor Dhornelas, que vive o personagem Clov, ambos dividem a cena desde a infância de Victor.

"Queremos mostrar que Samuel Beckett é um escritor e poeta visionário. À medida que o tempo passa, sua criação se torna cada vez mais atual diante do mundo em que vivemos. E nada melhor que a sabedoria de um velho palhaço para narrar a sua história", explica Eid Ribeiro.

O resultado pode ser visto como um espetáculo que navega rumo ao acaso e à improvisação, mas com pontual elaboração em determinados momentos.

"Enquanto o mundo caminha para a extinção, no premonitório planeta Beckettiano, onde os seres humanos não conseguem se comunicar apesar de falarem pelos cotovelos, o humor e o riso fazem parte dessa nossa tragédia", reflete o diretor.

Com esse novo "Fim de partida", Eid Ribeiro busca provocar uma simbiose entre o personagem da ficção beckettiana e a linguagem da palhaçaria, com duas narrativas que percorrerão caminhos paralelos, mas que se identificarão em determinados momentos, praticando um jogo de ironia e escárnio, rindo do trágico destino traçado para a humanidade.

A estreia do espetáculo em palcos cariocas no Rio de Janeiro será nesta quarta-feira (5) no Teatro III do CCBB, onde fica em cartaz até 30 de junho com apresentações de quarta a sábado às 19h e domingo às 17:30h.

SERVIÇO

FIM DE PARTIDA

Centro Cultural Banco do Brasil - Teatro III (Rua Primeiro de Março, 66, Centro)

De 5 a 30/6, de quarta a sábado (19h) e domingo (17h30) | Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)