Cristo, a figura que moldou o Ocidente

Em seu novo espetáculo, Moacyr de Góes reflete sobre a mitologia e a história em torno da personalidade de Jesus

Por

Para construir seu personagem, Augusto Garcia necessitou de um preparo amplo que envolveu um trabalho meticuloso de corpo e voz

"Jesus, Os Últimos Instantes", texto inédito de Moacyr Góes, está em cartaz, sob sua direção, no Teatro Vannucci, na Gávea. Com o ator Augusto Garcia no papel do personagem tão importante e extraordinário tanto na seara da fé, quanto da cultura do mundo, o solo se passa nos instantes finais da crucificação - quando Jesus está só, clamando por uma palavra do Pai e sentindo-se abandonado. Nesse instante, sofrido e acossado por dores lancinantes, ele relembra sua vida, sua passagem, sua mãe, os apóstolos e sua missão, o Plano de Deus.

Para escrever o texto, Moacyr se valeu de extensa pesquisa, em colaboração com o professor André Chevitarese sobre o que dizem as escrituras acerca da vida de Jesus Cristo, e o que a História comprova do Jesus histórico, o camponês pobre nascido em Nazaré.

"O que me motivou a escrever a peça foi minha paixão pelo tema da fé e a cristandade. Como impactam e definem a vida da gente. Nesse estudo foi inevitável me debruçar sobre Jesus, o centro daquilo que conhecemos como Ocidente", pondera Góes.

"As pessoas podem crer ou podem não crer em Cristo - ainda bem. Mas não podemos ignorar o extraordinário valor da mensagem inaugural sobre o amor e a igualdade entre os homens. Em um tempo de tanto desamor, intolerância e violência, o que verdadeiramente significam as palavras e os exemplos do Nazareno são uma esperança. Todo meu trabalho no teatro foi e é uma investigação sobre o humano, o que nos define, o que nos move. De um tempo pra cá tive necessidade de estudar isso, saber do que trata profundamente a fé. Às vezes acho que faço teatro para entender e me aproximar de coisas. A fé me inquieta, é isso, acho", explica Moacyr.

Estar em cena como essa figura mundialmente conhecida é de grande responsabilidade, mas Augusto Garcia não titubeou ao receber o convite. "Quando ele me convidou, apenas obedeci. Moacyr é um grande diretor de teatro, em quem confio plenamente. Sua inteligência diferenciada, somada a um intenso grau de sensibilidade e uma extraordinária compreensão do ofício teatral, faz com que seja um dos maiores diretores de teatro do Brasil. A experiência de interpretar um grande personagem é sempre gratificante e desafiadora. Jesus possui uma verdadeira trajetória do herói. Trata-se de um desafio diário que me exige uma auto exposição impiedosa", considera Augusto.

Para construir seu personagem, Augusto Garcia necessitou de um preparo amplo. "A preparação envolveu um trabalho meticuloso de corpo e voz. Cada gesto introduzido possui um determinado significado, bem como a intenção de cada fala. Realizamos ainda um estudo profundo sobre os dados históricos difundido acerca da trajetória de Jesus, buscando apresentar um perfil compatível com os estudos mais avançados sobre o tema. Chegamos aos ensaios completamente amparados por bases sólidas de compreensão do texto, onde a criação artística se deu de forma espontânea", sintetiza o ator.

A montagem chega aos palcos poucos meses depois de Moacyr ter dirigido o também inédito "Moria", seu último texto teatral e o pontapé de sua trilogia "O Mistério da Fé". Naquela trama, duas iranianas refugiadas na Grécia se encontravam secretamente de madrugada para ensaiar uma peça sobre os apóstolos Paulo e Tiago. "A relação com 'Moria' se limita a ser uma peça sobre o que significam fé e cristandade para nós. Digo que é uma obra de arte porque não se pretende evangelizar, este não é o papel da arte. O público pode esperar uma peça emocionante, sobre um personagem arrebatador, com uma história extraordinária. E uma atuação do Augusto Garcia primorosa", finaliza Moacyr.

SERVIÇO

JESUS, OS ÚLTIMOS INSTANTES

Teatro Vannucci (Shopping da Gávea - Rua Marquês de São Vicente, 52)

Até 26/5, às sextas e sábados (21h) e domingos (20h)

Ingressos: R$ 120 e R$ 60 (meia)