CRÍTICA TEATRO - DIÁRIO DO FAROL - UMA PEÇA SOBRE A MALDADE: Apenas uma banalidade

Por Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Existem várias teorias sobre o mal. Religiosas, fatalistas, saúde mental. Ante o genocídio dos judeus, Hannah Arendt cunhou a banalidade do mal, baseada no fato de que as pessoas são incapazes de julgar. João Ubaldo Ribeiro escreve uma obra poderosa. Uma metralhadora que acerta religião, família... É dela que Thelmo Fernandes faz o solo magistral "Diário do Farol - Uma Peça sobre a Maldade".

Com idealização e inspiração de Domingos Oliveira, direção de Fernando Philbert, o espetáculo nos guia a um personagem que mergulha, sem parar, na auto confissão de todo o tipo de sordidez imaginável que chegamos a tremer de perplexidade e indignação.

A direção é o tecer de uma colcha de crochê. Cada episódio, cada ato é falado de um jeito, permitindo que Thelmo possa ir despejando sem exageros, sem trejeitos, com seu jeito único de ser ator, aquele que só os que pertencem ao Olimpo da dramaturgia são capazes de fazer.

Impressiona como a máxima menos é mais aqui cabe como uma luva. Gritar para que? Gesticular com que objetivo? Cuspir, sapatear, vomitar ódio? O que faz de 'O Farol' um espetáculo inesquecível, marcante é a delicadeza da luz, do figurino, com casaco de couro, o jeito com que Thelmo se move.

Há quem se impressione, sem pensar que perceber o horror e o terror é o ato de pensar, refletir sobre o que permite que o mal exista. A banalidade não está no ato. Está em quem não tem esse olhar. Temos que agradecer a João Ubaldo, Thelmo e Philbert por terem a coragem de nos levar a ver como o mal existe e está ao nosso lado.

SERVIÇO

DIÁRIO DO FAROL - UMA PEÇA SOBRE A MALDADE

Teatro Poeira (Rua São João Batista, 104 - Botafogo)

De 4/6 a 24/7, às terças e quartas (20h) | Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia)