Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Aldri Anunciação, um autor obsessivo pela reflexão

Em cartaz no Rio com 'O Pequeno Manual Antirracista, o dramaturgo Aldri Anunciação fala sobre sua missão como autor: 'Quero é que o que está no palco, vire debate, conversa, pensamento' | Foto: Joedson Miguez/Divulgação

A história de um herói sempre é marcada por atos de coragem. Ao ler "Capitães de Areia", cujos personagens seriam vizinhos de sua avó, o menino Aldri foi instado a ir conversar com o "pai" de Pedro Bala. Vizinho de Jorge Amado, foi ao seu encontro e disse que queria ser amigo daqueles meninos. "Como posso conhecê-los"?. A resposta do autor foi enviá-lo à atriz Nilda Spencer que tinha um grupo de teatro.

Aldri Anunciação tem o prazer dos personagens com quem se encontrou na infância e a coragem de se expor nos temas que lhe interessam: "Faço troça com a plateia, mas o que quero é que reflitam e que o que está no palco, vire debate, conversa, pensamento". Premiado com Jabuti, maior prêmio da literatura brasileira, com "Namíbia, Não", desde então está com peças de sucesso rodando o Brasil.

A primeira, baseada no livro, foi levada aos palcos sob a direção de Lázaro Ramos, se tornou um sucesso de crítica e público. "Namibia, Não" já foi vista por mais de 1 milhao de espectadores e depois seria adaptada ao cinema, com direção de Lázaro, no longa "Medida Provisória".

A homenagem a Antonio Pitanga em "Embarque Imediato" apresenta diferentes pontos de vista para levar o espectador às sua próprias conclusões a partir das reflexões e argumentações tecidas ao longo da cena. Assim acontece em "Pele Negra", "Máscara Branca, em Campo de Batalha" e agora em "Pequeno Manual Antirracista", em cartaz no Rio.

Aldri Anunciação é baiano, doutor em Artes Dramatúrgicas e andou por Europa, França, Bahia, mas também na Alemanha, Áustria, Rio, São Paulo. Trabalhou com grandes diretores como Gabriel Villela, Lázaro Ramos, Márcio Meirelles; participou de processos de montagem de óperas; é, ele próprio, produtor e diretor de seus textos.

"A dramaturgia que desenvolvo na tese de doutorado, é aquela que confina a personagem e planta um debate. A minha tentativa é que a platéia não perceba que está ao meio do debate. Para que as pessoas acabem por entrar nessa debate, vou divertindo através do texto dramático", reflete Aldri ao definir sua obra.

"Defendo esse entretenimento capaz de fazer a reflexão filosófica e política, uma junção do best seller com a reflexão. Agora, na adaptação de 'O Pequeno Manual Antirracista' de Djamila Ribeiro, pensei que esse texto, como todo manual, não se aprofunda. Meu trabalho foi tentar abrir abas complicadoras de pensamento", explica.

Aldri é carnavalesco em todos os sentidos. Sua família, banida pelo racismo dos blocos em Salvador, criou o Bloco Realce. Artista em toda sua totalidade - escreve, atua e dirige -, pegou o trio elétrico do teatro e não se perde. Agora está no processo de adaptação de "Torto Arado", o best seller do seu conterrâneo Itamar Vieira Júnior. "Gosto de disparar a metralhadora e ir mandando bala na platEia. Faço assim em todos os meus trabalhos", avisa.

SERVIÇO

O PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA

Teatro Firjan Sesi Centro (Av. Graça Aranha, 1 - Centro)

Até 11/6, às segundas e terças (19h)

Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)