Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TEATRO - NÃO ME ENTREGO, NÃO!: Um grito que não parou

Othon Bastos repassa décadas de vida e trajetória artística no palco | Foto: Beti Niemeyer/Divulgação

Há momentos de alegria. Há momentos de encantamento. Há momentos de risadas. Há momentos de epifania. Há momentos em que nos reencontramos com a nossa história. Há momentos das mais profundas emoções, daqueles que temos certeza que só o teatro é capaz de nos colocar como coletividade, como brasileiros. Há momentos que nos reencontramos com o nosso íntimo, com o nosso ser. Há momentos de ver espetáculos como "Eu não me entrego não, a autobiografia de Othon Bastos, com dramaturgia e direção de Flávio Marinho.

Como bem nos apontava, Luciana Braga em "Judy" ao mencionar Marinho como o produtor/diretor/autor, de forma esfuziante, ele aqui é muito mais do que esses três papéis. Como um mágico, vai tirando palavras, diálogos, frases de um cartola criativa ao mesmo tempo em o Othon se movimenta, ocupa o palco com uma miríade de gestos amplos, voz com todas as sílabas perfeitas, ganhando a dimensão que a proposta merece.

De Othon Bastos há que se falar de sua idade, 91 anos, que vira apenas um ponto nesse oceano de talento. Tudo é gesto, é representação que enche o palco de personagens, de cenários, de figurinos, de lembranças, mesmo daquilo que não vimos. Othon é vigoroso, expressivo, contido, aberto, cômico, trágico, engraçado, triste, sozinho e acompanhado. Tudo isso e mais o que é inimaginável que alguém possa fazer, com aquela aparente e mentirosa facilidade, como Othon realiza em todos as cenas.

Há ainda a genialíssima idéia de uma "Memória" sentadinha a uma mesa para fazer o ponto e o contraponto dos possíveis esquecimentos de Othon, assim como a contracena em alguns instantes. É o talento de Juliana Medella, diretora-assistente, o melhor tertius possível na dupla Flavio Marinho/Othon Bastos ao fazer a Memória. Há, assim, momentos em que só o teatro é capaz de nos provocar o nosso melhor. "Eu Não Me Entrego, Não!" é a melhor prova disso.

SERVIÇO

NÃO ME ENTREGO, NÃO!

Teatro Vanucci (Shopping da Gávea - Rua Marquês de São Vicente, 52 - 3º piso)

Até 28/7, sextas e domingos (20h) e sábados (20h30)*

Ingressos: R$ 100 e R$ 50 (sextas e domingos | R$ 120 e R$ 60 (sábados)

*Dia 5/07 não tem espetáculo