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É possível dialogar na guerra?

Vino Fragoso, ator e idealizador da montagem, e Lucas Popeta em 'A Pedra Escura' | Foto: Divulgação

A força do diálogo, da compreensão e do amor em meio aos horrores da guerra. Esse é o ponto de partida de "A Pedra Escura", sucesso de público e crítica, que volta aos palcos cariocas no Teatro Municipal Domingos Oliveira, no Planetário da Gávea. A montagem inédita no Brasil de um dos mais premiados e importantes textos do teatro espanhol moderno, escrito por Alberto Conejero, fará temporada a partir desta quinta-feira (27).

Baseada em uma história real, a peça se passa no quarto de um hospital militar, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), dividido entre o prisioneiro Rapún (Vino Fragoso) e o guarda Sebastian (Lucas Popeta). Um revolucionário e um garoto. Dois homens que não se conhecem são forçados a compartilhar as horas terríveis de uma contagem regressiva que pode terminar com a morte de um deles ao amanhecer.

Ao prisioneiro, restam poucas horas de vida e a missão de salvar o último trabalho que Federico Garcia Lorca (Carmo Dalla Vecchia, em off), um dos maiores escritores espanhóis de todos os tempos, deixou sob sua custódia. Para isso, precisa convencer o jovem militar a salvar o texto de teatro, que conta a história de amor entre dois homens, motivo pelo qual Lorca foi fuzilado pelo exército franquista um ano antes, em 1936.

A produção, que fez sua estreia no Brasil em 2023 no Teatro Poeirinha, tem direção de João Fonseca e ficha técnica repleta de nomes de destaque no teatro nacional.

"A Pedra Escura" combina tensão dramática e pulso poético para levantar questões importantes, como a barbárie causada por uma guerra, a importância de preservar a memória e a cultura de um povo. E o papel crucial da educação e da arte para a construção de uma sociedade mais humana e menos desigual.

"Eu queria fazer um espetáculo que fosse dramatúrgico, mais concreto, e com temática LGBTQIAPN . Desde quando comecei a me descobrir bissexual quis levar ao palco essa pauta, pois há pouca representatividade nas artes e na mídia. Em 2018, conheci o trabalho de Alberto Conejero ao ler 'Como Posso Não Ser Montgomery Clift?' e, no ano seguinte, começamos a conversar sobre o projeto da montagem de 'A Pedra Escura'", conta Vino Fragoso, ator e idealizador do projeto.

"Convidei para a direção o João Fonseca, que foi uma das primeiras pessoas que conheci no Rio de Janeiro, por meio do Paulo Gustavo", detalha.

Diretor com mais de 30 espetáculos dirigidos, o premiado João Fonseca reforça o papel da peça de Alberto Conejero na preservação da trajetória de Rafael Rodrigues Rapún, companheiro de Federico Garcia Lorca nos últimos anos de sua vida e inspiração para os seus "Sonetos do Amor Obscuro".

"São muitos anos de obscuridade, muitos anos sem que as personagens LGBTQIAPN que fizeram parte da história tivessem suas vidas contadas e sua importância reconhecida. Muitos anos de perseguição por governos autoritários sem nunca vir um pedido de desculpas", comenenta o encenador. "'A Pedra Escura' é um encontro de dois jovens atropelados pela Guerra Civil Espanhola, guerra que destrói tudo, inclusive os vencedores. Desse encontro surge a esperança de que, mesmo aniquilados, não desaparecemos por completo. A arte e a memória resgatarão a beleza e a poesia", reforça.

SERVIÇO

A PEDRA ESCURA

Teatro Municipal Domingos Oliveira (Av. Padre Leonel Franca, 240 - Gávea - Planetário)

De 27/6 a 14/7, de quinta a domingo (20h)

Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)