Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TEATRO - LÍNGUA: O silêncio é ouro

A montagem de 'Língua' cumpre as regras de um bom espetáculo | Foto: Renato Mangolin/Divulgação

 

Aprendemos, desde sempre, que o teatro tem três regras básicas para facilitar a compreensão da plateia. A unidade de lugar - toda a ação se passa em um único local; a unidade de tempo - o tempo da peça pode ser o tempo da ação e a verossimilhança é que se a história existisse, seria exatamente assim. "Língua" é uma peça que cumpre as três. O que, por si só, já seria ótimo em tempos de teatro-libelo. Mas vai além: centra a questão da falta de comunicação em uma trama que se passa em um aniversário de um jovem surdo. Parece simples, mas é muito engenhoso e eficiente ao matar dois coelhos com um cajadada só.

Assinada por Pedro Emanuel e Vinicius Arneiro, com interlocução de Catherine Moreira, a dramaturgia foi criada em sala de ensaio com o elenco, que reúne Erika Rettl, Filipe Codeço, Jhonatas Narciso, Luize Mendes Dias e Ricardo Boaretto, a partir de situações que contemplam laços familiares e de amizade. O espetáculo, com atuação de boa qualidade de todo o grupo, traduz os sentimentos mais básicos - paixões e desejos pelo amigo - até a amplitude de toda a história girar em torno de um personagem surdo e de como seus próximos se comunicam com ele e entre si na pequena comemoração. Há que se destacar, Luize com sua personagem Julieta (nomeação inteligente na ironia) e Ricardo (Matias, o personagem principal).

Cada detalhe, cada pequeno diálogo, cada música, cada acontecimento se entrelaçam de forma harmônica para ter o foco em uma proposta de significação, clara e cristalina desde a abertura. Pessoas estão distantes, incapazes de falar a mesma língua, ainda que no mesmo ambiente Surdos o tempo todo ao que o outro é, ao que o outro deseja, ama.

"Língua" é mais do que uma proposta. Sem defender causas, sem estatísticas é capaz de transformar a ida ao Sesc em algo raro: aquela conversa pós na qual se continua falando e refletindo a partir do que no que se viu. Essa é a quarta regra do bom teatro.

SERVIÇO

LÍNGUA

Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160)

Até 30/6, de sexta a domingo (20h30)

Ingressos: R$ 30, R$ 15 (meia) e R$ 7,50 (associado Sesc)