Constituição? A quem serve?

Idealizada por Natasha Corbelino, montagem inédita leva ao palco 20 atrizes conversando com direitos e deveres de modo divertido

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A montagem de 'Constituição: o Ovo ou a Galinha' reúne 20 atrizes

"E quando a galinha é sua, mas bota ovo no terreno do vizinho? De quem é o ovo?". A pergunta que abre "Constituição: o Ovo ou a Galinha?" já insinua os questionamentos aos quais a peça se propõe. Texto inédito de Cecilia Ripoll a partir de uma longa pesquisa de Natasha Corbelino, o espetáculo dirigido por Juliana França leva à cena 20 atrizes plurais na Arena do Sesc Copacabana. A peça trava uma discussão sobre direitos e deveres de modo divertido e fluido.

No palco, muitos Brasis. Uma dramaturgia nacional inédita, escrita e dirigida por pessoas jovens e com percursos consistentes. Em cena, com maioria não-branca, estão atrizes negras, indígenas e brancas, não-bináries, transgêneras e cisgêneras. Na trama, só uma cerca separa os terrenos vizinhos, e um personagem adquire uma galinha bem peculiar: ela só consegue colocar ovos no terreno do vizinho. E aí, de quem são os ovos? Essa é a pergunta chave que move a ficção no desejo de promover reflexão e debate.

A peça teve sua origem em 2016 quando, no dia em que foi votado o impechament da presidente Dilma Rousseff. Natasha decidiu trabalhar com a Constituição Brasileira nos Arcos da Lapa. Desde então, a artista passou a pesquisar a Carta Magna e performar artisticamente sobre o tema em muitos projetos como, em 2020, passou 7h falando a palavra "constituição" no YouTube do Museu da Maré no dia 7 de setembro daquele ano. Em 2021, foram 8h ao vivo no Oi Futuro Flamengo lendo a Constituição Brasileira como parte do projeto "Boleto em Cena", cuja proposta era que boletos de pessoas trabalhadoras da Cultura fossem pagos enquanto a ação performativa acontecia.

"O que o teatro faz, e nossa peça celebra, é um ato precioso de dar a ver camadas de Brasis em luta com uma linguagem estética que ilumina e é iluminada pela ética coletiva que só a cena partilha com o público. Com a criação, as pessoas na plateia podem bordar mais possibilidades de lidar com o real e a expansão de estratégias de manutenção da pulsão de Vida. Nossa peça evidencia o que falta e o que sobra na nossa Constituição como sociedade democrática. Nossa cena causa conversa plural ao mostrar e estimular que muitos pontos de vista tomem a palavra, o corpo, tomem uma posição em relação a uma questão aparentemente simples: de quem é o ovo?", pondera Natasha.

"A Constituição de 1988 é tida como exemplo mundial enquanto avanço de conquistas sobre direitos das minorias. Mas, talvez pelo linguajar mais formal e institucional, talvez pelas letras miudinhas ou até mesmo por uma soma de fatores, há algo nela que faz com que guardemos deste documento uma certa distância. Através da ficção e do humor estabelecemos uma troca franca e direta com o público, quebrando a ideia prévia de ser algo muito complicado", acredita a autora Cecilia Ripoll.

SERVIÇO

CONSTITUIÇÃO: O OVO OU A GALINHA?

Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160)

Até 23/6, de quinta a domingo (20h)

Ingressos: R$ 30, R$ 15 (meia) e R$ 7,50 (associado Sesc)