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Drama familiar no palco

'O Poeta Aviador', novo texto de Renata Renata Mizrahi, conta a história de uma família de classe média que precisa se reinventar diante de uma situação-limite | Foto: Dalton Valério/Divulgação

Com texto inédito de Renata Mizrahi — vencedora do Prêmio Shell em 2015 por "Galápagos"—, o espetáculo "O Poeta Aviador" está em cartaz na Arena do Sesc Copacabana. A direção da montagem leva a assinatura da autora e de Priscila Vidca, com quem Renata está celebrando 11 anos de parceria. Juntas, elas têm no currículo peças premiadas e de sucesso, como "Gabriel Só Quer Ser Ele Mesmo", "Silêncio!", "Vale Night" (em cartaz no Rio e em Portugal) e "Os Sapos", que ganha este ano uma versão para o cinema com Thalita Carauta à frente do elenco.

Vilma Melo (protagonista da série 'Encantados', da TV Globo), Hugo Germano, Jefferson Schroeder e José Karini compõem o elenco de "O Poeta Aviador". Primeira atriz preta a vencer o Prêmio Shell de Melhor Atriz - por "Chica da Silva - O Musical", em 2017, também escrito por Renata -, Vilma firma mais uma parceria com a autora, com quem encenou recentemente o solo "Mãe de Santo".

Na nova peça, a atriz dá vida a Sheila, uma mulher de classe média que enfrenta uma crise na relação com o marido, Cláudio (José Karini), enquanto precisa lidar com as questões do filho pré-adolescente (Hugo Germano), que tem 11 anos.

"Já perdi a conta dos trabalhos que fiz com a Renata: são muitas frentes e linguagens. E cada vez que ela escreve, eu me surpreendo. Este texto agora toca nas relações familiares e sociais, mostra como um casal lida com as pessoas com as quais convive, principalmente o filho, e também a forma como encaram o dinheiro. Existem muitas verdades. Construo a Sheila a partir da observação de muitas mulheres, ouço muito o texto, a direção, os colegas. Além da técnica, uso a minha intuição, pois a criação parte dela", conta Vilma.

Sheila, sua personagem, é muito apegada ao menino e, agora, ela e o marido precisam se reinventar e muito diante de uma situação-limite: Cláudio está com a sua empresa de advocacia à beira da falência e, em meio a tudo isso, o filho deles é internado em um hospital, onde parece apenas ter alguma paz quando está ao lado do voluntário Rafael (Jefferson Schroeder). Este personagem acaba se transformando em um trampolim para a grande virada na relação desta família.

"Sou muito amigo dos meus dois sobrinhos, um deles tem a idade do Lucas. Interpretar o Rafael significa também entender como levar para o palco essa afinidade que se dá com uma criança que está passando por um momento difícil. A peça também expõe o dia a dia de crianças que veem suas realidades empurradas para quartos de hospital e nos faz refletir sobre nossas próprias vidas", diz Jefferson, intérprete de Rafael.

Contudo, o espetáculo trata de todos esses temas com muita leveza e é destinado a toda a família, como explica a autora, Renata Mizrahi. "Colocamos uma lupa sobre esta família interracial de classe média. O texto foi se modificando de lá para cá, comecei a escrevê-lo há 12 anos. Mostramos um casal com muitas dificuldades em entender o processo de transformação que o filho está atravessando", diz a escritora.

Hugo Germano, que recentemente esteve no longa "Mussum: O Filmis", tem se divertido nos ensaios ao dar vida a um menino de 11 anos. O ator tem 32 anos e interpreta brilhantemente Lucas. "Eu sempre digo que tenho um Erê dentro de mim. Gosto muito do universo da criança, dá espaço para muita criação. É muito à flor da pele também. O personagem é uma criança sonhadora como eu fui", confessa.

O arco dramático do personagem envolve também a puberdade. Lucas conhece o amor pela primeira vez com Carminha, a garota que está internada no hospital no quarto ao lado. Seu grande sonho é se tornar aviador e cruzar os céus, para desgosto do pai, José Karini - ator da Cia. Os Dezequilibrados —, que implica com todas essas coisas, inclusive o interesse de Lucas pela poesia.

"Ele é careta e machista. Nunca se discutiu tanto a questão estrutural em torno disso. Há mulheres muito machistas também. A gente tenta desconstruir isso em cena. A gente também começa a pensar e observar como isso existe de certa forma dentro de nós. Atores são progressistas e querem quebrar padrões, mas também temos resíduos, infelizmente. A gente é doutrinado desde pequeno, né?", lembra Karini.

"O Poeta Aviador" também tem direção de produção de Renata Mizrahi em parceria com Priscila Vidca. O cenário é assinado por Anderson Aragón; o figurino é de Guilherme Reis; a iluminação, de Anderson Ratto, e a trilha sonora foi criada por Wladimir Pinheiro - indicado ao Prêmio Shell 2022 por "Vozes Negras".

SERVIÇO

O POETA AVIADOR

Arena do Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160)

Até 21/7, de quinta a domingo (20h)

Ingressos: R$ 30, R$ 15 (meia) e R$ 7,50 (associados Sesc)