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Denise Stutz, a destemida

Denise e Gui Stutz, filho de Denise, atua no solo infantil 'A Máquina do Tempo' | Foto: Renato Mangolin/Divulgação

Por Cláudia Chaves

Especial para o Correio da Manhã

"Eu sou trezentos, sou trezentos e cincoenta", assim falou Mario de Andrade sobre um si próprio imaginário. Mas ser trezentos, trezentos e cinquenta, quando se trata da Denise Stutz, diretora, coreógrafa, bailarina, atriz…, esse número chegar a ser pequeno. Jovem, mineira, em 1975 vislumbrou que poderia se ter um ballet que exibisse nossas cores, nossos valores, participou da consagrada fundação do Grupo Corpo.

Agora parceira de Inês Vianna, Denise já fez outras duplas. Com Lia Rodrigues como bailarina, professora e assistente de direção, professora do curso técnico da Escola Angel Viana durante seis anos. Trabalhou como coreógrafa dos trabalhos de Luiz Fernando Carvalho. A partir de 2003 começa a desenvolver seu próprio trabalho solo, se apresenta ndo nas principais capitais do Brasil, na França, Espanha, Portugal, África e Austrália. Seus trabalhos solos - "DeCor", "Finita" e "Entre Ver" - foram premiados e aclamados.

Denise fala com exclusividade para o Correio da Manhã sobre seus dois trabalhos em cartaz: "Perigosas Damas" e "A Máquina do Tempo", um nonólgo infantil com atuação de seu filho, Gui Sutz.

Como dirigir duas peças tão diferentes, uma adulta e outra infantil?

Denise Stutz - Cada peça é um universo em si, e toda vez que me chamam para direção preciso conhecer e entender as questões, os desejos das pessoas e daquele mundo que vou habitar por um tempo. Quando entro no universo infantil é diferente porque tento me transportar e lembrar do que eu era, e atravessar o tempo com que meu filho foi e hoje com o que meus netos são. E aí entender como trazer a memória do meu universo de criança para o mundo atual. É mesmo uma viagem no tempo.

A adulta tem um corte racial, a parceria com a música, como foi o processo?

"Perigosas Damas" é sobre a liberdade feminina a partir do início do sistema prisional brasileiro, nos meados do século XX as mulheres eram encarceradas em manicômios, conventos presídios por serem sexualizadas, lésbicas, extrovertidas, inteligentes, praticarem cartomancia, terem repulsa sexual ao marido. Foi um processo intenso e muito bonito. Estava junto com Soraya Ravenle, que foi a diretora assistente, companheira, parceira e a gente conversava muito sobre cada dia, cada momento do processo. Elisa Lucinda que é uma gênia, seus poemas, sua escrita, suas palavras são flechas certeiras e Geovana Pires me fez o convite para esse projeto, que era uma tese, uma escrita que defende e afirma certezas. O desafio foi trazer uma narrativa poética então veio a música, o rap e o funk trazendo a história da Geovana que vem da periferia e é uma atriz com uma escuta muito rara e generosa.

E como é dirigir o filho?

Gui e eu já trabalhamos juntos em várias peças, os dois em cena, mas isso faz tempo. Eu nunca tinha dirigido ele. Foi uma delícia. É um tempo comigo mesma, com ele criança e com ele agora pai dos meus quatro netos. É a viagem no tempo que falei antes. Porque não era só mais uma peça de teatro, é o encontro e reencontro num lugar diferente com todo o amor que existe e tudo que representa essa relação de mãe e filho. E tem também o amor em comum pelo teatro, pelo desejo de inventar, pelo prazer de estar no palco e pela beleza desse universo de contar histórias. Ao mesmo tempo, eu ia percebendo as inquietações dele, a preocupação pelo mundo que habitamos e a pergunta: "que lugar é esse que vamos deixar para os filhos e netos?", a urgência de uma mudança de consciência sobre as ações humanas no planeta. E é sobre isso que ele quer falar "A Máquina do tempo", mas fala de uma maneira lúdica, para crianças e adultos também sobre essa urgência. E sobre uma ideia para adiar o fim do mundo.

SERVIÇO

PERIGOSAS DAMAS

Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160)

Até 21/7, de quinta a domingo (19h)

Ingressos: R$ 30, R$ 15 (meia) e R$ 7,50 (associado Sesc)

A MÁQUINA DO TEMPO

Teatro Municipal Domingos Oliveira (Av. Padre Leonel Franca, 240 - Planetário da Gávea)

De 20 a 28/7, aos sábados e domingos (16h)

Ingressos: R$ 50 (inteira), R$ 25 (meia) e R$ 20 (Lista amiga*)

*Enviar o nome para o e-mail: [email protected]