Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TEATRO - A VISITA: Somos todos iguais

Em 'A Visita', carol Duarte é uma executiva com burn-out | Foto: Divulgação

Muitas vezes cantarolar "Somos Todos Iguais Nessa Noite" nos dá um certo alívio em nosso encontro com uma humanidade corriqueira. Em outros momentos, garantir a nossa individualidade, as nossas diferenças, o nosso eu sou eu, mais eu e muito eu. Quando se alcança exatamente isso é um enorme ganho: mostra-se o individual para nos apresentar a condição humana, a matriz da arte. "A Visita" consegue esse efeito com acerto.

Um monólogo rápido e certeiro com um figurino que acompanha o estado da alma da personagem vivida por Carol Duarte, com desempenho extraordinário, uma executiva em burn-out, quando a pessoa enlouquece das pressões da sociedade do desempenho, do capitalismo Instagram, quando tudo o que se faz tem que receber likes.

Outras méritos são realizados pelos outros dois pés que realizam um espetáculo de excelência: texto e direção. O texto de Aline Klein vai na contramão da maioria dos espetáculos atuais. O teatro de libelo ou de teatro de nicho com seus recortes focam o drama do humano em um ponto. O enlouquecimento por pressão acontece com todo e qualquer e é um dos mais graves males de nossa sociedade. Desde o jardim de infância até o doutorado, do faxineiro ao presidente da empresa, a loucura se apresenta na vida e é evidencia na joia que é o texto de Aline.

A direção de Murilo Basso localiza a ação em um ambiente difuso, com a iluminação que aguça o que acontece, com Carol, o personagem não é nomeado, assim como a visita, parada na vertical, no meio de algo que a prende sem ferros. E aí se dá o fenômeno, com uma expressão corporal, com movimentos amplos e contidos, raivosos ressentidos, Carol não sai do lugar, assim como a sua vida.

Em um tempo curto, não há nada além. É conciso, enxuto, impactante. Ah e A Visita? É alguém do trabalho da personagem, mas funciona como um interlocutor que é o gatilho da epifania: gritar, revoltar-se, se expor, denunciar. Quando acaba, sentimos inveja da coragem e da ousadia da mulher. Eu e a torcida do Flamengo adoraríamos gritar contra a sociedade atual. Salve Carol! Salve Aline! Salve Murilo!

SERVIÇO

A VISITA

Teatro Firjan SESI Centro (Av. Graça Aranha, 1 - Centro)

Até 6/8, segundas e terças (19h)

Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)