Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TEATRO - O FIGURANTE: Antesde tudo, um forte

| Foto: Dalton Valério/Divulgação

Há um livro, que foi uma bíblia nos anos 70, chamado "Psicanálise dos Contos de Fadas" que explica o que está por trás das narrativas consagradas, aparentemente inocentes. Em "O Figurante", primeiro solo de Mateus Solano, nota-se que, sem necessidade de explicação, o que se vê é ao se mostrar o cotidiano desse profissional, fala-se de muitas relações das mais prosaicas às mais complexas.

O personagem vai desfiando as agruras absolutas, da solidão da vida, as viagens sem contato nos coletivos e o total alijamento no mundo do trabalho. Apesar de se chamar Augusto, ele é o altão, sem nome, sem papel, sem perspectiva. Seu trabalho cênico é eficiente nos eixos corpo e voz. As mímicas dos gestos diários, dos atos que jamais acontecerão. As expectativas, as decepções, se constroem na sincronicidade, na exatidão das mãos, nos meneios do tronco e na sustentação das pernas.

A direção de Miguel Thiré faz o jogo entre Mateus, as vozes daqueles ausentes e, ao mesmo tempo onipresentes, que dirigem e espicaçam a vida desse alijado figurante. Um participante alheio, sem voz e proibido de ter qualquer gesto que evidencie vontade própria. Há algo de importante nesse monólogo, escapa-se do teatro de nicho, com viés definido, para uma proposta clara. À primeira vista pode parecer um texto metalinguístico, com críticas ao comportamento dos profissionais com nível de poder. Mas essa é apenas a superfície. A aproximação se dá com os marginais, no sentido da palavra: aqueles que vivem à margem. Não entram no rio, estão por ali na beira, incapazes de nadar.

SERVIÇO

O FIGURANTE

Teatro Fashion Mall (Shopping Fashion Mall - Estrada da Gávea, 899 - lj 216 - São Conrado)

Até 1/9, sextas (20h), sábados e domingos (19h) | R$ 120 e R$ 60 (meia)