Um retrato mordaz da classe média dos EUA
'Três Mulheres Altas', de Edward Albee, volta aos palcos cariocas depois de lotar teatros em sete cidades brasileiras
Após o sucesso de sua primeira temporada na cidade e passar por sete cidades e ter quase 40 mil espectadores na plateia, o espetáculo "Três Mulheres Altas" retorna aos palcos cariocas com resstreia nesta quinta-feira (4), no Teatro Copacabana Palace.
Escrita por Edward Albee (1928-2016) no início da década de 90, o texto logo se tornou um clássico da dramaturgia contemporânea. Perversamente engraçada - como é a marca do autor -, a peça recebeu o Prêmio Pulitzer e ganhou bem-sucedidas montagens pelo mundo, ao trazer o embate de três mulheres em diferentes fases da vida: juventude, maturidade e velhice.
Dirigida por Fernando Philbert, a nova versão da peça traz no elenco Suely Franco, Deborah Evelyn e Fernanda Nobre, substituindo Nathalia Dill. A tradução é de Gustavo Pinheiro e a produção de Bruna Dornellas e Wesley Telles. Deborah Evelyn ganhou o Prêmio APTR de Melhor Atriz e o espetáculo somou indicações a prêmios como o Cesgranrio, Bibi Ferreira e Cenym.
Em cena, as atrizes interpretam três mulheres, batizadas pelo autor apenas pelas letras A, B e C. A mais velha (Suely Franco), que já passou dos 90, está doente e embaralha memórias e acontecimentos, enquanto repassa a sua vida para a personagem B (Deborah Evelyn), apresentada como uma espécie de cuidadora ou dama de companhia. A mais jovem, C (Fernanda Nobre), é uma advogada responsável por administrar os bens e recursos da idosa, que não consegue mais lidar com as questões financeiras e burocráticas.
Entre os muitos embates travados pelas três, a grande protagonista do espetáculo é a passagem do tempo e também a forma com que lidamos com o envelhecimento. "O texto do Albee nos faz refletir sobre qual é a melhor fase da vida, além de questões sobre o olhar da juventude para a velhice, sobre a pessoa de 50 anos que também já acha que sabe tudo e, fundamentalmente, sobre o que nós fazemos com o tempo que nos resta. Apesar dos temas profundos, a peça é uma comédia em que rimos de nós mesmos", analisa o diretor.
A última e até então única encenação do texto no Brasil foi logo após a estreia em Nova York, em 1994. Philbert e as atrizes da atual montagem acreditam que a nova versão traz uma visão atualizada com todas as mudanças comportamentais e políticas que aconteceram no mundo de lá para cá, especialmente nas questões femininas, presentes durante os dois atos da peça. Sexo, casamento, desejo, pressões e machismo são temas que aparecem nos diálogos e comprovam a extrema atualidade do texto de Albee.
Escrita em 1991 e lançada em 1994, "Três Mulheres Altas" representou uma virada na trajetória de Edward Albee, que recebeu as suas melhores críticas e viu renascer o interesse por sua obra, que inclui clássicos como "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" (1962), "Zoo Story" (1959) e "Equilíbrio Delicado" (1966). Aos 60 anos, ele ganharia o terceiro Prêmio Pulitzer, além de dois Tony Awards e uma série de outros troféus em premiações mundo afora.
A peça tem características autobiográficas e foi escrita pouquíssimo tempo depois da morte da mãe adotiva do autor, que teria inspirado a personagem mais velha. Após abandoná-la aos 18 anos, Albee voltou a ter contato com a mãe em seus últimos dias, quando já estava doente de Alzheimer. No entanto, alguns especialistas em sua obra defendem que a peça não pode ser reduzida a este fato.
O texto vai além de ser um retrato de sua mãe: traz o olhar mordaz e perverso – e cômico – de Albee para a classe média alta americana e toda a sua hipocrisia, ao falar sobre status, sucesso, sexo e abordar a visão preconceituosa da sociedade e as relações que as três mulheres travam com o mundo, sempre atravessadas pelo filtro machista.
O espetáculo estreou na Broadway em 1994, no Vineyard Theatre, e no mesmo ano chegou ao West End, em Londres, no Wyndham's Theatre, além de iniciar uma turnê pelos Estados Unidos com a montagem americana e render versões na Espanha e Portugal. Em 2018, o texto foi remontado na Broadway, com direção de Joe Mantello e estrelado por Glenda Jackson, Laurie Metcalf e Alison Pill. No Brasil, a peça foi originalmente dirigida por José Possi Neto, em 1995, e recebeu os prêmios APCA e Mambembe de Melhor Espetáculo.
SERVIÇO
TRÊS MULHERES ALTAS
Teatro Copacabana Palace (Av. Nossa Sra. de Copacabana, 261)
De 4/7 a 29/9, de quinta a sábado (19h30) e domingos (17h)
Ingressos:
Plateia, frisas e camarote: R$ 160 e R$ 80 (meia) | Balcão: R$ 39,60 e R$ 19,80 (meia)