CRÍTICA TEATRO - A LISTA: Salve amizade

Por Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Giulia Bertolli e Lilia Cabral em 'A Lista'

Há uma crença que os opostos se atraem. Mas temos vividos tempos de polarização, quando tudo se afasta cada vez mais. Desde as mudanças climáticas, os regimes radicais, as redes sociais, as guerras, os choques estão nos atingindo , mesmo que não se queira. "A Lista", em cartaz no Teatro Adolpho Bloch, é história da capacidade de se perceber que o afeto, a amizade descomprometida, supera o afastamento.

O texto de Gustavo Pinheiro é uma elegia à convivência humana, baseada em curtos e certeiros diálogos entre as duas personagens, a aposentada e a jovem contemporânea, interpretadas por Lilia Cabral e Giulia Bertolli. O primeiro embate é, justamente, a cerca do ranzinzice da mulher mais velha, amarga, solitária que necessita que Amanda vá ao supermercado.

Gustavo tem uma forte característica que transforma "A lista" num espetáculo de emoções. Ao invés de fatos impactantes, viradas inesperadas, o desenvolvimento da trama se dá pelas palavras, pelo que se é falado e como é dito.

A direção de Guilherme Piva calça as intenções com a atuação das duas atrizes absolutamente coerentes com o texto.

Fazer da aposentada uma professora, situar a ação em Copacabana e nomeá-la Laurita, o nome de outra geração, mas com o afeto do apelido são elementos que, apesar de serem de uma obviedade, criam a importante ligação imediata da plateia, pois são elementos de já trazem um significado conhecido. Essa clareza do cotidiano, situações com que todos nos confrontamentos é a chave da obra.

A interpretação de Lilia e Giulia e o trabalho de corpo de Marcia Rubin só fazem ressaltar que o teatro é capaz de emocionar, fazer rir, chorar e surpreender durante 90 minutos quando nos reconhecemos no que vemos. "A Lista" nos pega de palavra em palavra, de gesto em gesto em cada pequena, nos transformando em Laurita, que vencemos qualquer embate, pelo prazer de ver que a vida e arte são maiores que tudo.

SERVIÇO

A LISTA

Teatro Adolpho Bloch (Rua do Russel, 804 - Glória)

Até 28/7, sextas e sábados (20h) e domingos (18h)

Ingressos: R$ 140 e R$ 70 (meia)