Acessibilidade no palco

Infantil 'Da Janela' coloca o tema no centro da trama

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De sua janela, Malu - com o auxílio de um binóculo - narra tudo o que acontece na vizinhança e, desta forma, consegue descrever o que acontece em cena para os que não veem. A personagem Nina, que é surda, ensina a Cadu como ele pode falar sem usar as palavras

Malu, Nina e Cadu são três crianças vizinhas que se conhecem pelas janelas de suas casas. Aos poucos, começam a se comunicar à distância e a amizade do trio se inicia à medida em que aprendem instintivamente a lidar com as diferenças de cada um. Com este ponto de partida, o espetáculo infantil "Da Janela", em cartaz no Sesc Tijuca, foi construído na sala de ensaios em um processo que colocou a acessibilidade dentro de todas as etapas da criação.

Com a participação de consultores de inclusão e pessoas com deficiência em sua ficha técnica, o diretor Marco dos Anjos concebeu um espetáculo em que teatraliza recursos de acessibilidade na comunicação e promove uma encenação inclusiva a crianças com deficiência.

Afinal, de sua janela, Malu (Elizândra Souza) - com o auxílio de um binóculo - narra tudo o que acontece na vizinhança e, desta forma, consegue descrever o que acontece em cena para os que não veem. Já a personagem Nina (Mariana Siciliano), que é surda, ensina a Cadu (Vinicius Teixeira) como ele pode falar sem usar as palavras.

Ao longo das cenas, a inclusão aparece de forma orgânica, resultando em um espetáculo que pode ser acompanhado da mesma forma por crianças e adultos que possuam ou não qualquer tipo de deficiência. Durante o processo, Thamires Ferreira, atriz e intérprete de Libras, se juntou ao grupo e passou a fazer parte do elenco como a síndica da vizinhança onde se passa a história. Ela comenta sobre o que se passa no palco com a plateia.

A produção contará ainda com fones abafadores para pessoas com sensibilidade auditiva e monitores especializados para auxílio de pessoas neurodivergentes, além da acessibilidade a pessoas com mobilidade reduzida e cadeirantes.

"Da Janela" tem na ficha técnica Bárbara Galvão e Felipe Valle (direção de produção), Ananda K (trilha sonora e direção musical), Ricardo Gadelha (direção de movimento e preparação corporal), Cachalote Mattos (cenografia), Teresa Abreu (figurinos) e Ana Luzia Molinari de Simoni (iluminação).

Todo o processo de criação do espetáculo foi motivado pelo desejo do encenador Marco dos Anjos de pesquisar com profundidade a inclusão de pessoas com deficiência em um espetáculo. Ao mesmo tempo em que os recursos de acessibilidade são cada vez mais comuns e presentes nas apresentações teatrais, Marco os via como algo "à parte", sem uma integração com o que estava sendo apresentado em cena. Logo ele se desafiou a criar um espetáculo em que esses recursos estivessem também teatralizados.

Para isso, ele contou com a consultoria de Vanessa Bruna (Incluir pela Arte) e Christofer Allex, que estiveram em ensaios e foram decisivos para a formatação final da dramaturgia e da direção. E a equipe do espetáculo inclui profissionais com deficiência, como o caso da atriz Mariana Siciliano, que é surda.

"Eu quis fazer um mergulho profundo nessa pesquisa, quis colocar a inclusão radicalmente na cena, inserida dentro do que acontece no palco", resume o diretor, que coleciona mais de 50 prêmios com a companhia Trupe do Experimento, da qual é diretor artístico há 18 anos e assinou nove espetáculos neste período.

SERVIÇO

DA JANELA

Teatro I do Sesc Tijuca (Rua Barão de Mesquita, 539)

Até 25/8, aos sábados e domingos (16h)

Ingressos: Infantil - R$ 10, R$ 5 (meia), R$ 2 (associado Sesc) e gratuito (PCG) | Adulto - R$ 30, R$ 15 (meia), R$ 7,50 (associado do Sesc) e gratuito (PCG)