Houve em um Festival da Canção um magnetizante Toni Tornado cantando a balada "BR-3", cuja letra dizia, entre outras, Há um crime no longo asfalto dessa estrada. "Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante" também conta a história de uma outra estrada, onde acontece um crime e, como na canção, há um sonho, uma viagem multicolorida.
A forma de contar o maior dos horrores que pode acontecer a uma mulher, um estupro coletivo comandando por um homem conhecido, amoroso que parecia gentil, é o que faz de "Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante" um espetáculo de valor, pois mistura a atuação de Débora Falabella e Yara Novaes com um jogo de luzes impressionante que se transforma em terceiro personagem de um texto que, como os sentimentos fala aos tropeços, aos pedaços, rodeando o horror que, de tão horror, que não pode ser falado direto e reto.
Encenada pelo Grupo 3 de Teatro (formado por Débora, Yara e Gabriel Fontes Paiva), há coerência absoluta ao que se propõe: uma direção ágil que com o foco em dois personagens, uma encenação sofisticada que se traduz nos figurinos e no cenário, na inserção musical.
Há que se destacar a interpretação de Débora que repete a competência de "Prima Facie", coisa rara que a atriz domina, emocionando a platéia. A nomeação das personagens: Diana, a caçadora para a vigia da estrada, papel de Yara e Chapeuzinha, a bobinha que não percebe o perigo, para Débora mostra o embate que a mistura de duas mitologias traduz com eficiência.
Mais do que trazer Chapeuzinho à vida, tirá-la do delírio a narrativa não localizada em um tempo específico, apenas no signo de toda beleza e clareza, a noite estrelada, nos lembra que ferir mulheres, destruir o seu feminino continua acontecendo a todo minuto no Brasil. E 53 anos depois, a letra de "BR-3" continua premonitória.
SERVIÇO
NESTE MUNDO, NESTA NOITE BRILHANTE
Teatro Firjan Sesi Centro (Av. Graça Aranha, 1 - Centro)
Até 18/8, às quintas e sextas (19h) | sábados e domingos (18h)
R$ 40 e R$ 20 (meia)