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Da pedra se faz um grito de liberdade

Lucas Oradovschi - em cena em 'Um pássaro nao é uma pedra' | Foto: Sofia Pacullo/Divulgação

Nos anos 1980, num campo de refugiados em Jenin, na Palestina, Arna Mer, judia israelense, e Samira Zubeidi, árabe palestina, criaram o Teatro de Pedra, que atendia milhares de crianças e foi destruído pelo exército israelense. Vinte anos depois, nos anos 2000, os filhos dessas duas mulheres criaram o Teatro da Liberdade, ainda de pé e indicado ao prêmio Nobel da Paz de 2024. Com idealização e atuação de Lucas Oradovschi, o monólogo "Um pássaro não é uma pedra", em cartaz no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, conta essas histórias a partir da perspectiva de uma pedra, um pedaço de escombro de um teatro destruído.

A direção foi feita coletivamente por Adriana Schneider, Cátia Costa e Mar Mordente, a partir de dramaturgia de Adriana Schneider, Cátia Costa, Daniel Bueno, Lucas Oradovschi e Mar Mordente e texto de Daniel Bueno e Lucas Oradovschi.

"Eu ouvi essa história durante o meu mestrado e fui completamente atravessado por ela. Eu precisava contá-la para o mundo. Ela mostra as possibilidades de aliança em meio à guerra, alianças que vão além das diferenças étnicas, culturais, religiosas...", conta Lucas Oradovschi, ator de ascendência judia, que busca tratar com poesia questões políticas e sociais atuais e que nos são urgentes. "Eu percebi que essa não é apenas uma história que dialoga com uma realidade da guerra atual no oriente médio. Ela se relaciona também com a nossa história brasileira e latino-americana, tão mergulhada em violências coloniais, históricas, atuais", completa.

O Teatro de Pedra foi criado pela israelense Arna Mer e pela palestina Samira Zubeidi, no final dos anos 1980. O nome é uma homenagem às pedras atiradas pelas crianças palestinas contra os tanques israelenses. Duas mulheres, duas mães, uma judia e outra muçulmana, se unem em um gesto de solidariedade que rompe com a espiral de ódio e violência, criando pontes que atravessam os abismos da desigualdade e opressão. Destruído pelo exército israelense no início dos anos 2000, seria reconstruído como Teatro da Liberdade - em memória às suas mães - por Juliano Mer Khamis e Zakaria Zubeidi.

A peça é fruto do encontro de artistas de ascendência árabe e judaica investigando juntos modos de criação coletiva e as relações entre arte e política. As histórias de vida de algumas instigantes figuras que viveram as experiências de teatro comunitário e resistência cultural no campo de refugiados de Jenin são o fio condutor do espetáculo. "Fazemos uma investigação cênica que, ao abordar os conflitos entre Israel e Palestina, trata de questões sensíveis ao Brasil contemporâneo", explica a codiretora Adriana Schneider.

SERVIÇO

UM PÁSSARO NÃO É UMA PEDRA

Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto (Rua do Humaitá, 163_

Até 25/8, sextas e sábados (20h) e domingos (19h)

Ingressos: R$ 40, R$ 20 (meia) e R$ 50 (ingresso duplo em dinheiro)