Inédito no Brasil, o espetáculo "O Segredo de Brokeback Mountain" estreia nos palcos cariocas pelas mãos do premiado diretor Moacyr Góes. Baseado no conto de Annie Proulx que narra a história de amor dos cowboys Ennis Del Mar e Jack Twist, a peça é uma adaptação de Ashley Robinson com músicas de Dan Gillespie Sells. Estrondoso sucesso desde o lançamento do filme homônimo de Ang Lee, o maior indicado do Oscar de 2006 com oito menções e vencedor de três estatuetas, a trama icônica tem em sua primeira montagem nos palcos nacionais Marcéu Pierrotti e Júlio Oliveira na pele dos protagonistas Ennis Del Mar e Jack Twist.
Responsável pela compra dos direitos da montagem no Brasil, Marcelo Brou é o idealizador da montagem e está em cena como o personagem Ennis na fase madura, narrando passagens da peça.
No interior dos Estados Unidos, Jack Twist e Ennis Del Mar são dois jovens que se conhecem no verão de 1963, após serem contratados para cuidar das ovelhas de Joe Aguirre em Brokeback Mountain. Jack deseja ser cowboy e está trabalhando no local pelo segundo ano seguido, enquanto Ennis encara o trabalho para ganhar dinheiro, pois pretende se casar com Alma, sua namorada, tão logo o verão acabe. Vivendo isolados por semanas, eles se tornam cada vez mais próximos e iniciam um relacionamento amoroso, intenso, conflituado e transformador. Ao término do verão cada um segue sua vida, mas o período e as coisas vividas naquele verão irão marcar suas vidas para sempre.
"É uma história sobre amor, intolerância e a complexidade dos sentimentos e desejos humanos. Essas são questões que marcam a trajetória humana. A realidade da diversidade das pessoas e a aceitação do outro como ele é são conquistas a serem efetivadas e realmente vividas em sociedade. Ainda estamos longe disso, já percorremos alguma estrada nesse sentido, mas ainda estamos longe. Neste sentido a peça é, sim, uma reflexão sobre as realidades vividas pela comunidade LGBTQIAPN ", ressalta Moacyr Góes.
A ideia da montagem partiu de Marcelo Brou que, impactado após assistir a montagem em Londres, fez contato com Moacyr convidando-o a dirigir a primeira montagem do texto no Brasil. "Eu estava assistindo a um musical em Londres em 2023, depois de ter feito a novela 'Travessia', de Gloria Perez, quando ouvi um burburinho. As pessoas falavam que haviam assistido o espetáculo Brokeback Mountain num teatro bem perto de onde eu estava. Então eu fui conferir e fiquei encantado", relembra Brou. "E eu topei o convite na hora, pois é uma bela e importante história, cheia de humanidade e beleza", reitera Moacyr.
Direitos comprados, produção caminhando, foram feitas audições em busca dos atores para dar vida aos protagonistas tão emblemáticos, chegando aos nomes de Marcéu Pierrotti e Júlio Oliveira. "Parte do elenco foi convidado, mas os protagonistas foram escolhidos em audição. O que foi um imperativo na escolha foi a capacidade de infestar de humanidade todos os personagens. O desafio de entender do que trata a história, seus meandros complexos, o comportamento dos personagens no drama como expressão do que são e desejam, e traduzir isso de forma que seja uma expressão sincera. Eu adoro este texto porque é uma bela e comovente história sobre o amor, intolerância e liberdade, que são marcas ou temas em quase tudo que fiz no teatro", pondera Moacyr.
Evidenciando os estigmas que cerceiam os relacionamentos gays, desde a figura dos cowboys, personagens atribuídos como másculos no imaginário coletivo, até a heterossexualidade compulsória que é comunicada nas entrelinhas da trama, mesmo com uma história que se passa no final do século XX e após tantas transformações na sociedade desde o lançamento do filme em 2005, a trama permanece atual. "Porque ela trata de questões constitutivas da humanidade. Ela não precisou de nenhuma 'atualização', é extremamente fácil o reconhecimento do que vivemos hoje com a história de Ennis e Jack", acredita Góes.
"Por mais que o conto tenha mais de 20 anos, as lutas são as mesmas. Não se faz necessária nenhuma intervenção por se tratar de uma forma de amor genuína. A peça poderia ter sido encenada há duas décadas ou hoje, como estamos fazendo. Toda a equipe está muito feliz por levar à cena uma peça que fala de amor, que é um tema universal", complementa Marcelo. À época do lançamento do filme, as cenas de amor e sexo entre os protagonistas geraram burburinho, de adesões a censuras pelo mundo afora. Na adaptação para o teatro, tudo será feito com muito respeito à história.
"A peça chega respeitando o amor e o conto da autora. Estamos tentando fazer o possível para que todos que vierem ao teatro saiam felizes e com algum tipo de reflexão", pontua Marcelo Brou. "As cenas serão tratadas como expressão do comportamento apaixonado e erótico dos personagens. Nada será criado para encobrir algo ou, por outro lado, para ser uma exploração da nudez dos atores. Espero que o público se comova tanto como todos nós, que nos emocionamos diariamente nos ensaios. Pode ser uma peça importante para muita gente, espero", destaca Moacyr.
SERVIÇO
O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN
Teatro das Artes (Rua Marquês de São Vicente, 52 / 2º Piso - Shopping da Gávea)
De 7/8 a 26/9, quartas e quintas (20h) | ngressos: R$ 120 e R$ 60 (meia)