Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Suzana Nascimento: 'Eu procuro aqueles personagens que, de alguma forma, me afetam profundamente'

A atriz Suzana Nascimento fala de seu ofício de atuar e como escolhe os papéis que quer interpretar nos palcos | Foto: Elisa Mendes/Divulgação

Suzana Nascimento é daquelas artistas que possuem o poder de encantar as plateias contando histórias. Ela está no monólogo "Em Nome da Mãe", um espetáculo raro, uma empreitada corajosa desta atriz capaz de compor igualmente papéis muito diferentes. Como faz neste espetáculo em cartaz no Teatro Adolpho Bloch nos emocionou de tal forma tornou-se necessário saber mais sobre ela e seu ofício no teatro. Confira na entrevista a seguir:

Como você escolhe seus papéis?

Suzana Nascimento - Sou atraída por personagens e histórias que de alguma forma vão trazer, que vão trazer algo que transforme o mundo, a realidade, as pessoas que de alguma forma traz algo que vai fazer as pessoas saírem diferentes do teatro. E, no caso dos meus projetos, está muito vinculado à minha história pessoal, como é caso da Dona Zaninha, de "Calango Deu!!", que foi uma personagem que foi nascendo, surgindo e se desenvolvendo ao longo do tempo a partir da minha história de família, do lugar de onde eu vim. É aquela frase linda: "Quando não souber para onde ir, lembre se de onde você veio", que eu falo na peça "Calango Deu!". E que tem a ver com esse lugar de falar, falar da gente, mas falar da gente de um modo permeável e que atinja o mundo e que fale do mundo, que fale do todo. No caso de "Em Nome da Mãe", quando li o livro do Erri De Luca, eu fiquei arrebatada completamente. E fiquei muito impressionada porque eu nunca tinha parado para pensar nessa mulher de carne e osso, assim como muita gente nunca parou para pensar nessa mulher de carne e osso que é a Maria e tudo o que ela deve ter passado na época que ela passou, na época que essa história provavelmente aconteceu. E como ela tem a ver com as muitas mulheres da atualidade. Como essa história conversa com a nossa atualidade. Então, eu acho que é isso. Eu procuro aqueles personagens que de alguma forma me afetam profundamente e que a partir daí eu vou trabalhar essas personagens para que elas afetem profundamente outras pessoas também. E que de alguma forma elas transformem e façam as pessoas refletirem e causem alguma mudança nas pessoas que se encontram com essa personagem.

Teatro é contação de histórias?

Eu acho que teatro é... Teatro são muitas coisas, inclusive contação de histórias. E pode também não ser de alguma forma, mas isso a gente tem que considerar o que a gente chama de contar histórias. A gente pode contar histórias de diversas maneiras, de forma só visual. A gente pode contar, fertilizar um terreno para que cada pessoa conte sua própria história a partir do encontro dela com a obra de arte. Então, eu acho que sim, contação de histórias num sentido muito amplo. O teatro é também, mas eu acho que ele é mais do que isso. Teatro ele provoca sensações, ele provoca, ele é sensorial, ele é... Ele une todas as artes. Então ele é muito ramificado e potente. E a contação de histórias, que faz parte do teatro também, é a nossa arte mais primeva. O ser humano precisa contar histórias, precisa ouvir histórias, isso é uma necessidade. É assim que a gente foi passando a nossa cultura pelas gerações. Foi assim que a gente conseguiu criar um sentido de permanência, de origem e de pertencimento. Então eu acho que, para mim, que sou atriz e contadora de histórias, eu vejo que são duas coisas diferentes, mas o teatro abrange a contação de histórias no seu caldeirão. E a contação de histórias é a coisa mais pura, mais simples, mais humana, no sentido de origem mesmo. E eu sou muito feliz por caminhar com essas duas formas de se comunicar com o mundo porque elas são das mais poderosas. Sou muito feliz por estar o tempo todo de braços dados com elas.

Qual papel sonha em fazer?

Tem alguns personagens fortíssimos que eu já quis muito e gostaria de fazer. Uma das mais antigas que eu lembro é a Bernarda Alba, de "A casa de Bernarda Alba", do Federico García Lorca. Mas essa é uma que eu falava assim, nossa, quando eu tiver lá meus 60 para 70 anos eu vou fazer a Bernarda Alba. Quem sabe? Mas é uma personagem muito amarga, muito... e de uma história de uma peça que as mulheres são muito maltratadas. Então eu não sei, hoje eu teria que reler para saber se eu gostaria de fazer realmente.

SERVIÇO

EM NOME DA MÃE

Teatro Adolpho Bloch (Rua do Russel 804, Glória)

Até 29/8, às quartas e quintas (20h)

Ingressos: R$ 70 e R$ 35 (meia)