Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Uma criação poética em torno da perda da memória

Clarisse Derzié Luz comenta que a peça é uma metáfora do relacionamento entre gerações capaz de emocionar o público | Foto: Divulgação

"Saudade torrente de paixão que aniquila a vida gente..." Esse era o mote dos sambas-canção da década de 50, a ancestralidade da sofrência. "A Voz de Vó", dramaturgia de Sara Antunes - que assina a direção, com supervisão artística de Vera Holtz - tem em cena Clarisse Derzié Luz interpretando a Vó que está com Alzheimer e vai, com a ajuda de seus netos, em busca das suas memórias perdidas.

Dessa matéria-prima, a importância das lembranças, as saudades a serem compartilhadas que devem ficar como legada é que se constrói uma criação poética que aborda a perda da memória, mas também a fabulação. Um projeto que reúne uma equipe comprometida com a narrativa de uma história repleta de emoção, afetos, humor, amor e descobertas.

Em conversa exclusiva com Correio da Manhã, Clarisse comenta que a peça é uma metáfora do relacionamento entre idades diferentes ao mesmo tempo em que as pessoas se espelham e se emocionam com o que assiste.

"Tivemos durante todo esse ano de apresentações inúmeros relatos e reações de crianças e jovens se sentindo acolhidos e abraçados por essa vó da ficção que acordava neles a vó, a mãe, a tia, o pai, enfim, pessoas fundamentais em suas vidas. Como o texto foi construído com as memórias de todos nós e quando falo nós, falo de todas as pessoas que estavam conosco nos ensaios, toda a equipe! O que possibilitou uma gama de lembranças que acabam tocando em muitas pessoas. Mais do que uma dramaturgia o que temos é um momento poético que mexe com o imaginário das pessoas e nos aproximam ao que há de mais sensível em nós", diz atriz.

Integrante do Grupo Tapa por vários anos, Clarisse participou do espetáculo "Pinnochio" que, na época, ganhou todos os prêmios, além do enorme sucesso de público. Ela destaca as semelhanças entre os dois projetos. "'Pinnochio' era um texto já pronto quando começamos os ensaios e o entrosamento com o grupo já vinha de muitos trabalhos. Fomos encontrando, juntos, caminhos para encenação, mas o figurino foi desenhado pelo Celso Lemos (ator do grupo) e executado pela Lola Tolentino. As músicas foram compostas pelo Francis Hime, tudo feito por cada pessoa separadamente. São duas produções de peso, bem cuidadas e que pensam na criança como um ser pensante e rico de possibilidades, contemplando também os adultos", comenta.

Clarisse, ao mesmo tempo, enfatiza a importância de se enecenar peças que dialoguem com todos os tipos de público. "Peças para a família, envolve a todos. Em 'Voz de Vó' construímos o texto fazendo, criando a cada ensaio com nossas próprias lembranças e memórias. Tudo foi aparecendo nos ensaios. Cada dia uma nova emoção, uma música sendo inventada, um desenho da Analu, um jogo atual de crianças, a sugestão de uma roupa, enfim, um trabalho árduo e junto, por dois meses intensos e de muita emoção", detalha.

E como o espetáculo faz enorme sucesso em São Paulo, Clarisse foi provocada a comentar se há a diferença entre as plateias. Para ela, o bom teatro é apreciado por todos. "Em São Paulo estamos fazendo a temporada pelo Sesi SP, então recebemos públicos já agendados por eles, em sua maioria escolas públicas, asilos de idosos, pessoas com necessidades especiais, moradores de rua, um trabalho lindo do Sesi! São espetáculos para 500 pessoas. Em alguns teatros do interior nos apresntamos para públicos de cerca de 400 pessoas. O volume era outro e consequentemente a reação também. Mas a interação com a plateia e a emoção que a Peça produz é a mesma. Aqui no Rio estamos trazendo grupos que têm poucas oportunidades de ver teatro. Faço esse trabalho com muito amor e o Teatro Eco Vila tem também essa preocupação", compara.

SERVIÇO

VOZ DE VÓ

Teatro Ecovilla Ri Happy - Sala Tom Jobim (Rua Jardim Botânico, 1008 - Jardim Botânico) | Até 25/8, sábados (16h) e domingos (11h e 16h)

Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia)