Enquanto isso no futuro...
Espetáculo 'Pandemônio' retrata perseguições num regime autoritário
Em um futuro próximo a intolerância assume o poder, artistas, professores, políticos e religiosos contrários ao Novo Regime são perseguidos e executados sem possibilidade de defesa. A atriz Kika (Jessica Marques) e o pastor Anton (Pedro Carvalho) se encontram refugiados há meses em um bunker. Logo na primeira cena os dois são encontrados e morrem. Por que estavam lá? O que fizeram? Como foi que tudo começou?
Numa narrativa que vai de trás para frente, o público vai desvendando os acontecimentos passados ao longo de "Pandemônio", espetáculo em cartaz no Teatro Poeirinha, em Botafogo. Através dessa convivência inusitada e intensa entre uma atriz e um pastor, são colocados em xeque ideais, medos, sonhos e, sobretudo, verdades. "Pandemônio", com texto do aclamado autor de novelas Alessandro Marson, sob a direção de Breno Sanches, vem sendo idealizada faz tempo.
"Escrevi a primeira versão do texto há dez anos", relembra Marson. "Inicialmente, a peça tinha um elenco maior e um texto mais prolixo e teórico. Porém, após revisões, percebi que precisava de um foco mais aguçado. A narrativa explora a hipótese de um regime autoritário dominado por uma ideologia religiosa ultraconservadora." O contexto atual, com uma tentativa de golpe de estado de grupos extremistas e uma pandemia global, reavivou o interesse pela peça. "Durante a pandemia, um amigo ator estava explorando leituras online e me pediu um texto inédito, então eu decidi revisitar "Pandemônio". Vi nisso uma oportunidade de transformar o texto, adaptando-o para dois personagens principais. Essa nova abordagem deu clareza ao que eu queria expressar."
O grande desafio era escrever um espetáculo fora da ordem convencional. "Ao contar uma história de trás para frente, é crucial revelar desde o início o destino dos personagens. Isso exige uma construção cuidadosa para garantir que o impacto final seja potente", diz Marson, que escreveu sucessos como "Novo Mundo" (2017) e "Nos Tempos do Imperador" (2021) e "Elas por Elas" (2024).
Esse desafio do dramaturgo se estende à direção, com o cuidado que Breno teve em criar um universo distópico que transcende fronteiras nacionais. "Este porão, onde a história se desenrola, poderia ser qualquer lugar. Reflete preocupações universais e atemporais, abordando temas que ressoam em diferentes épocas e culturas", comenta Sanches.
SERVIÇO
PANDEMÔNIO
Teatro Poeirinha (Rua São João Batista, 104 - Botafogo)
Até 1/9, de quinta a sábado (20h) e domingo (19h)
Ingressos: R$ 70 e R$ 35,00 (meia)