CRÍTICA TEATRO - A BARCA: No balanço das ondas, eu vou

Por Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

No meio da baía que separa Rio e Niterói, Ivo (André Ramiro) e Douglas (Paulo Giannini) se aproximam em 'A Barca'

Diferentemente daquilo que chamamos de vida real, o teatro e as narrativas audiovisuais podem desenvolver passeios mantendo o sentido da história por vários espaços, mesmo que não haja cenário, e por vários tempos, mesmo que não haja troca de figurino, ou envelhecimento ou rejuvenescimento de personagens.

"A Barca" faz algo muito semelhante ao filme "A Corda", de Alfred Hitchcock, um longa sem edição cujo tempo de duração é exatamente o tempo de sua ação. Esse procedimento já transforma a peça em arte de narrar. O texto de Álvaro Campos conta uma história aparentemente muito simples.

A ação se passa dentro de uma barca Rio-Niterói, com um procedimento dramatúrgico muito interessante: se anuncia um defeito na barca para que a ação possa durar mais tempo no encontro nada casual entre dois amigos de infância, mas cujo desfecho nas vidas adultas é totalmente oposto.

A direção de Luiz Antônio Pilar, experimentado diretor de audiovisual, é um plano sequência, aquela ação sem cortes. Pilar ilumina o texto mostrando as contradições dos dois personagens com a diferença de figurino, de voz, de inflexão. Ivo, o personagem de André Ramiro, mostra o fracasso do sucesso e Douglas, o personagem de Paulo Giannini, mostra o sucesso do fracasso.

A interpretação de Ramiro é contida, séria, amarga, que quer esconder o seu fracasso profissional. Já o trabalho Paulo Giannini é uma explosão de alegria, de força, que é a sua capacidade de conviver com a vida que prometeu e não entregou.

O embate entre os dois é contínuo, até que, ao final, a cena mostra o retorno ao tempo perdido de forma esfuziante. "A Barca" prova que, ao mesmo tempo, se pode aprender com grandes histórias e mostrar dramas intensos em narrativas concisas.

SERVIÇO

A BARCA

Teatro Correios Léa Garcia (Centro Cultural Correios - Rua Visconde de Itaboraí, 20 - Centro)

Até 5/10, de quinta-feira a sábado (19h)

Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)