Uma tábula rasa
Por Cláduia Chaves
Especial para o Correio da Manhã
Locke, no século 17, nos apresenta o conceito de o sujeito ser uma tábula rasa, ao nascer sem conhecimento algum (com a mente se comparando a uma folha em branco, ou uma tábula rasa), e todo o processo do conhecer, tanto do saber quanto do agir, é desenvolvido através da experiência. Como se a consciência fosse desprovida de qualquer tipo de conhecimento inato.
A Sala Branca de Josep Maria Miró, o super premiado autor catalão, com direção de Gustavo Wabner, traduzida por Daniel Dias da Silva, usa como metáfora a relação de crianças, em suas primeiras letras, em uma sala na qual podem imprimir seus desenhos e as suas relações com o ambiente. O fio da história é o reencontro de 3 alunos com a professora que , como um super ego, lhes mostra as relações conflitadas que tiveram com um colega que era vítima de bullying por ser considerado homossexual que, provavelmente, se suicidou aos 15 anos.
O elenco formado por Daniel Dias da Silva, Angela Rebello, Isabel Cavalcanti e Sávio Moll com ótimas atuações, pois cada um é capaz de dar o necessário tom ao personagem. Culpados, confusos em seus sentimentos são revelados pela condução da professora.
A direção de Gustavo guia os diálogos , alguns ríspidos, outros repletos de perplexidade em que cada personagem pode olhar para si próprio, rever a infância. Essa linha tênue é bem desenvolvida pela movimentação corporal, pela voz e pelo interpretação de Angela, a professora, que vai orquestrando e provocando o crescendo dos sentimentos dos personagens.
Mas o que torna a peça um experiência fascinante é o papel de Isabel Cavalcanti, o alter ego da visão do autor sobre a capacidade da arte. Ela está grávida, mãe solo, mais madura e fascinada com a sua missão na maternidade: ter um filho que perceba o mundo. Escritora que é capaz de criar textos, mas reescrever o ambiente.
As músicas escolhidas por Gustavo, Sinal fechado na abertura e Gracias a la vida com Violeta Parra, mostram o delicado trajeto de a pessoa se inscrever na vida, essa inscrição ser "incorreta" aos padrões e incapaz de superar isso acaba por morrer.
SERVIÇO
Até 20 de outubro de 2024
Dias e horário: de quinta a domingo, às 19h | Não há apresentação entre os dias 3 e 6/10 devido às eleições municipais
Local: Sala Multiuso do Sesc Copacabana | ngressos: R$ 7,50 (credencial plena Sesc), R$ 15 (meia), R$ 30 (inteira) e gratuito (público cadastrado no PCG)
Informações: (21) 2547-0156