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A confusão de ser a si mesma (ou não) em 'Nebulosa de Baco'

Rosana Stavis e Helena de Jorge Portela atuam em cena no espetáculo 'Nebulosa de Baco' | Foto: REnato mangolin/Divulgação

Novo espetáculo da premiada Cia.Stavis-Damaceno, "Nebulosa de Baco", com dramaturgia e direção de Marcos Damaceno e atuação de Rosana Stavis e Helena de Jorge Portela, está em cartaz no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), recém-reaberto ao público.

A peça traz à cena duas mulheres expondo a "confusão" de serem elas mesmas, mas também de serem outras, inventadas, atrizes vivendo outras realidades, que às vezes são mais verdadeiras do que a própria verdade. A dramaturgia parte da "confusão" provocada pelo excesso de informações, de muitas situações acontecendo ao mesmo tempo, tudo embaralhado, e a velocidade com que nós, consumidores desse excesso de mídias, sem moderação, temos que processar o que passa da medida. Assim, a peça discute manipulações mentais e abusos emocionais, em diferentes situações, que todos nós sofremos, em tempo real.

Em "Nebulosa de Baco", duas mulheres, que também são atrizes, estão em seus "habitats naturais" - que são as salas de ensaio, espaços fascinantes de caos e criação para Marcos Damaceno, onde atrizes reconhecidamente fortes revelam suas fragilidades e inseguranças - com a tarefa de convencer a si mesmas a acreditar em si mesmas, ao mesmo tempo em que tentam entender e dar andamento aos preparativos de uma peça que se equilibra entre o riso e o choro, repleta de confusões e ansiedades próprias da cabeça de todo ser humano do século 21, entre o que é e o que não é, o que parece que é, mas também não é, entre o que é verdade e o que é manipulado, ou mera narrativa, entre o que é realidade e o que é ficção, ou imaginação.

"Em um mundo onde tudo cada vez mais é fake, não só a inteligência é artificial, mas tudo é artificial, ninguém mais sabe direito o que é real, o que é artificial, se o que aconteceu, aconteceu de fato, ou se foi inventado, ou se tem algum grau de manipulação, ou se é uma mera narrativa. Ou se tudo é narrativa e as verdades simplesmente não existem, porque tudo é narrativa", reflete a atriz Rosana Stavis.

A encenação traz características que são próprias de Marcos Damaceno, como o ritmo vertiginoso de pensamentos aparentemente desordenados e a confusão como um sentimento, um estado mental cada vez mais presente em nossos dias, além de, principalmente, trazer ao público espetáculos que impactam quase que exclusivamente pela força do elenco e das palavras. "A Aforista" - considerado pelo 18º Prêmio APTR como um dos 5 melhores de 2023 nas categorias: dramaturgia, espetáculo, direção, atriz, figurino e música - é um exemplo recente dessas características marcantes aplicadas pela Cia.Stavis-Damaceno.

"Todas as nossas peças se passam dentro de cabeças confusas e ansiosas. Claro que a gente joga uma pitada de humor. Sem humor a vida seria insuportável", comenta Marcos Damaceno. "Toda pessoa imersa em nossos dias é uma pessoa confusa e ansiosa, eu acho", brinca.

O nome do espetáculo tem inspiração na astronomia e na mitologia, as nebulosas são onde nascem as estrelas, são os berços das estrelas. Assim, o "Nebulosa de Baco" da Cia.Stavis-Damaceno é o lugar onde nascem as estrelas de teatro, sendo Baco o Deus do teatro.

"Artistas nascem para isso, para mostrar, a cada noite, aos olhos do público, o mundo visto sob outra luz. Não a luz acachapante do sol, mas feito a delicadeza, a suavidade da luz da lua", conclui Marcos Damaceno.

SERVIÇO

NEBULOSA DE BACO

centro Cultural Banco do Brasil - Teatro I (Rua Primeiro de Março, 66, Centro)

Até 24/11, de quarta a sábado (19h) e domingos (18h)

Ingresso: R$ 30 e e R$ 15 (meia)