Reflexões sobre o futuro da palavra

Com direção de Juliana França e Cecilia Ripoll, espetáculo aborda a nossa relação com as palavras num mundo que hoje é amplamente dominado por imagens

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Cecilia Ripoll volta aos palcos no solo 'Fantasiosa Exposição da Palavra'

Em um mundo dominado pela imagem nos meios de comunicação, estariam as palavras perdendo sua força vital? Ou será que, ao contrário, estariam ficando ainda mais fortes, pois cada vez mais raras? No espetáculo "Fantasiosa Exposição da Palavra", a atriz e dramaturga Cecilia Ripoll propõe uma reflexão sobre o impacto gerado pela invasão dos símbolos no campo das palavras.

Com direção de Juliana França e Cecilia Ripoll, o solo, criação do Grupo Gestopatas, está em cartaz no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, no Humaitá. Cecilia também vai ministra oficina de dramaturgia no espaço até o dia 14.

"Gifs, emojis, figurinhas e todos os tipos de símbolos são atualmente parte ativa de nosso vocabulário e de nossa comunicação. E qual impacto que isso tem sobre as palavras?", questiona a atriz e dramaturga. "Se pudéssemos perguntar às letras, às sílabas e às frases como é que elas estão se sentindo, suponho que as respostas seriam plurais, e é essa pluralidade de perspectivas e de sentimentos que constitui o texto da peça. Algumas palavras são saudosistas, outras amantes das transformações. No entanto, de uma forma ou de outra, todas estão sofrendo com algo que identificam como 'a financeirização da língua', fenômeno decorrente do uso dos símbolos estar tanto na base da comunicação humana quanto nas transações financeiras virtuais", acrescenta.

Na peça, a palavra é vista por ângulos, perspectivas e temporalidades diversas, criando metáforas sobre história, sociedade e relações afetivas. A estrutura se inspira livremente em "O Banquete", de Platão, em que os personagens expõem suas visões sobre o amor em pequenos discursos - já na peça, os discursos, as homenagens e as indagações giram em torno da palavra. "Fantasiosa Exposição da Palavra" reúne desde histórias fictícias sobre a vida das letras antes de terem vínculo empregatício com as sílabas até reflexões mais atuais, que focam na veloz circulação da palavra no mundo virtual ou sobre o que muda para uma palavra quando ela vem acompanhada de uma hashtag. "Uma das premissas básicas do teatro é a imaginação. Por isso, apostamos nas letras e nas palavras como instrumentos provocadores da imaginação. São elas que traçam e tentam dar conta de contar, entender e resolver o seu grande problema: a relação com a humanidade" explica a diretora Juliana França.

Depois de anos sem atuar regularmente, Cecilia resolveu voltar à cena neste trabalho autoral e íntimo, já que as questões tratadas permeiam há muito tempo o seu imaginário. "Existe, por exemplo, uma passagem que eu imaginava quando tinha uns 9 ou 10 anos. Uma cena em que as letras transitam de forma caótica pela atmosfera, gerando formas e sons inusitados. Então, como é um universo que vem se criando em mim há tanto tempo, achei que seria importante eu mesma dar som e forma com meu corpo para essa dramaturgia", elabora Cecilia.

"Além disso, existe a ideia de uma certa interação com o público, que é convidado (mas nunca intimado!) a interferir na cena, aqui e ali, de forma pontual. Essa proposta de interação faz com que eu sinta necessidade de editar a dramaturgia ao vivo, e promove sutis alterações no dia, a depender das intervenções externas, por isso digo que há uma dramaturgia viva em movimento" completaCecilia, indicada ao Prêmio Shell RJ nos anos de 2023 pela dramaturgia de "Pança" (sua direção) e de 2018 pela dramaturgia de "Rose" (direção Vinicius Arneiro).

SERVIÇO

FANTASIOSA EXPOSIÇÃO DA PALAVRA

Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto (Rua Visconde de Silva, ao lado do n° 29 - Humaitá)

Até 20/10, às sextas e sábados (19h) e domingos (18h)

Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)