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Brincando com estereótipos suburbanos

O moimento dos corpos e o figurino demarca os times de futebol e de queimado ao longo do premiado espetáculo | Foto: Maria Clara Oliveira/Divulgação

Espetáculo vencedor do Prêmio Shell de Teatro/RJ na categoria Música (Muato - pela direção musical, percussão corporal e trilha original) e no Prêmio do Humor/RJ nas categorias Melhor Texto, Melhor Direção e Melhor Espetáculo, a peça "Pelada - A hora da Gaymada" tem apresntação única nesta quinta-feira (28) no Teatro Rival Petrobras.

O espetáculo é um convite à reflexão, mas sem perder o humor. Idealizada e dirigida por Orlando Caldeira e escrita por Eudes Veloso, a peça traz na raiz o tom de comédia que, sem ridicularizar, cria e brinca com estereótipos para contar uma típica história do subúrbio carioca.

Essa é a nova parceria do diretor com o Complexo Negra Palavra, um grupo artístico multilinguagem, que acredita na potência de novas narrativas e, em especial, as de subúrbio e da cultura afro-brasileira.

No elenco, Adriano Torres, Aleh Silva, Djeferson Mendes, Eudes Veloso, Guilherme Canellas, Lucas Sampaio, Raphael Elias, Rodrigo Átila, Rodrigo Barizon e Thiago Hypólito.

A dramaturgia apresenta os bastidores da disputa de dois times pelo uso do Campo do Furão, em Olaria, antes que uma empreiteira o compre e destrua. Um embate por ocupação de espaço entre o time de futebol, que joga desde a criação do campo há 40 anos, e o time LGBTQIAPN de queimado, que tem o desejo de realizar o primeiro Campeonato de 'Gaymada' da região. Além do clima de disputa pelo campo, entra em cena também as divergências entre os jogadores - algumas vezes, até no vestiário. E momentos de estranhamento entre gays e héteros se fazem presente na história.

Com a direção de movimento de Orlando Caldeira, o conjunto, na atuação, no uso do corpo, marca a diferença entre o time de futebol, aparentemente hetero e o time do queimado. Os figurinos são adequados: o futebol, camisas velhas, desencontradas. Os da queimada, quase um bloco de sujo, com pedaços de roupas que remetem a uma certa feminilidade.

"O texto de Eudes Veloso é um acerto de fio a pavio. As brincadeiras masculinas não são grosseiras, pois toda a linguagem, os embates momentâneos usam a linguagem do cotidiano, aquela mesmo ouvida nos ônibus, nos trens, nas ruas", destaca Cláudia Chaves, crítica teatral do Correio da Manhã. "Assim, a dramaticidade, entendida como a ação de que o teatro, se junta à voz, ao texto, aos movimentos, para ser ver um espetáculo raro", prossegue.

A recuperação das tradições cariocas aparece em um documentário, exibido no intervalo entre as cenas, que localiza todas as situações: a amizade de colégio, a aceitação dos homossexuais, as figuras dos vizinhos, as casas, as ruas dos subúrbio, o sempre presente churrasquinho como o símbolo da união, da festa e da amizade.

"'Pelada - A hora da Gaymada' recupera a verdadeira alegria carioca", comenta Cláudia Chaves.

SERVIÇO

PELADA - A HORA DA GAYMADA

Teatro Rival Petrobras (Rua Álvaro Alvim, 33)

28/11, às 19h30

Ingressos a partir de R$ 35