Pedro Brício: 'Tivemos um respeito em relação à história, mas também essa possibilidade de ir para a fantasia'
Pedro Brício é um maestro e mestre nas artes performático. É formado em Cinema, estudou na Desmond Jones School of Mime (Reino Unido), na Scuola Internazionale dell'attore Comico (Itália) e na École Philippe Gaulier (França). É mestre em Teatro pela Unirio, escreve e dirige monólogos, grupos, musicais. Abraça diferentes estilos, é inovador, mesmo quando trabalha com os clássicos. Já recebeu os mais importantes prêmios brasileiros. Dirigiu blockbusters como "Show em Simonal", "Kink Kong Fran" e agora está por trás de dois dos maiores musicais do ano: "Tom Jobim Musical" (como co-autor) e "Vital - O Musical dos Paralamas" (como diretor). Um artista como poucos, capaz de entregar espetáculos totalmente diferentes, que causam enorme prazer às plateias que confirmam: "Pedro Brício sabe fazer teatro".
A seguir, ele fala conta ao Correio da Manhã o processo de direção de "Vital - O Musical dos Paralamas", com texto de Patrícia Andrade e produção de Gustavo Nunes e Marcelo Pires, em cartaz no Teatro Claro Rio.
Como foi o processo de direção em "Vital"?
Pedro Brício - Primeiro teve um tempo, um período de muita pesquisa que eu ouvi, novamente, toda a discografia e li as biografias, anotava o que me interessava, o que eu via como imagem, como possibilidade de interesse dramático nos conflitos ou só nas músicas, na beleza das músicas, mas sem pensar ainda na encenação, ainda não havia roteiro.
E a relação com seus parceiros de construção do musical?
Um crédito muito forte ao André Cortez, o cenógrafo. Contei pra ele esse conceito da memória, dos planos de a gente ter às vezes num plano presente, no outro o passado, no outro a imaginação, o delírio, quando Herbert está no hospital, André veio com a ideia desse cenário, com a perspectiva e possibilidade de ter planos coexistindo, muito, muito importante na criação de todo o espetáculo.
Fale da construção do Vital, esse personagem e narrador...
Como o espetáculo já se chamava "Vital", havia a proposta inicial de se entrar com um personagem que fosse um Vital simbólico também, pois o Vital, esse que existiu, foi o primeiro baterista da banda. Também temos um personagem narrador, que estava no inconsciente do Herbert, para também termos a possibilidade de licenças poéticas, sem inventar uma outra coisa, porque afinal os Paralamas existem, tem uma história, estão vivos. Tivemos um respeito em relação à história, mas também essa possibilidade de ir para a fantasia, para a produção de imagens que falassem, que expressassem a música dos Paralamas, com essa obrigação de estar colada todo o tempo nos fatos, até porque é um musical, é isso. Nos ensaios fomos vendo que era interessante outras pessoas contarem a história também. Apesar de claramente o Herbert Viana ser o protagonista, o espetáculo é muito de grupo, muito coral... então tem narrações do Vital, tem momentos do Bi, do Barone, do Zé (José Fortes, o empresário do grupo). Todos os personagens que estão ali contam algo.
Numa peça sobre um grupo, como funciona o grupo de criação?
Foi o segundo passo, pois não havia um roteiro ainda. E foi muito bom, desde o início, eu pensar com a Patrícia e com o Marcelo Pires, que também colaborou no roteiro, qual seria a perspectiva, de onde e como iríamos contar essa história, o que nessa história iria importar. Então, a primeira decisão foi a escolha por essa perspectiva da memória, de começar no hospital e todo o espetáculo, a narrativa, ter essa sensação da memória do Herbert, assim a gente poderia não ser totalmente linear com a história, também de ter uma imprecisão, de ter uma sensação ali do onírico também.
E quem mais chegou a essa banda?
Outra parceria fundamental nesse trabalho foi a do Daniel Rocha, na direção musical desde o início, trabalhando com a Patrícia. Também passava para ele. Começamos a pensar musicalmente como seriam feitas as sequências, o que ele achava das músicas, o que ele pensava, o que a música poderia trazer, entrar no meio dos diálogos, então o que eu acho com musical é realmente essa mistura, esse entrecruzamento do texto, da direção, da direção música e da música, né? Então o Dani também foi um parceiro fundamental na elaboração do conceito da encenação. A gente trabalhou muito junto na sala de ensaio.
E o relacionamento com o elenco?
Um foco que a gente sempre teve nesse espetáculo era na alegria, na vibração, na potência que a gente sentia, que tem na música dos Paralamas, achamos que o elenco tinha que ter isso também, essa energia, essa vibração e essa afetividade. Acho que realmente conseguimos um elenco muito talentoso, muito harmônico, também humor, muito importante. E um elenco afetuoso, muito talentoso, jovem, muitas pessoas jovens, mas muito talentosos, porque criávamos também na sala de ensaio. Às vezes eu propunha coisas para eles, para eles trazerem, então foi um processo onde a participação criativa do elenco foi relevante também.
SERVIÇO
VITAL - O MUSICAL DOS PARALAMAS
Teatro Claro Mais (Rua Siqueira Campos, 143, 2º Piso - Copacabana)
Até 24/11, às sextas (20h), sábados (16h e 20h) e domingos (18h)