Rasurar o passado para reescrevê-lo

Cia Setor de Áreas Isoladas, de Brasília, encena 'A Moscou! Um Palimpsesto' - baseada na peça 'As Três Irmãs', de Tchekhov - no Teatro Nelson Rodrigues

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A Cia Setor de Áreas Isoladas, de Brasília, encena no Rio 'A Moscou! Um Palimpsesto' - baseada na peça 'As Três Irmãs', clássico de Anton Tchekhov

O espetáculo "A Moscou! Um Palimpsesto", da companhia brasiliense Setor de Áreas Isoladas, nasceu do desejo de rasurar e reescrever o passado. Tendo por base o clássico "As Três Irmãs", de Anton Tchekhov, criou-se este palimpsesto, um pergaminho antigo cujo texto é raspado para dar lugar a um novo e que acaba por guardar vestígios do antigo.

A montagem, com dramaturgia e direção de Ada Luana, estreia no Teatro Nelson Rodrigues nesta quinta-feira (7). "Em 'As Três Irmãs', encontramos o tema da degradação a qual o tempo submete a vida dos seres, seus sonhos e desejos de realização pessoal. Eis o drama dos quatro irmãos tchekhovianos: enquanto fervem por dentro e projetam seus desejos e a esperança de plenitude no paraíso perdido ao qual chamam "Moscou", eles se entorpecem, ato após ato, em sua incapacidade de agir. O tema nos pareceu preciso para trazer para essa nova escrita as questões que atravessamos em nosso momento sócio-político nacional e mundial, em que assistimos a erosão de ideologias e promessas de mudança", diz a diretora.

No espetáculo, os personagens tornam-se náufragos dos falidos sistemas políticos, tal qual os heróis de Tchekhov, segregados entre degradados e degradadores. Assim, a vontade de confrontar as questões da obra original com a contemporaneidade chega ao público. "Afinal, que espaço temos para nossos desejos? As brechas que abri no original, rasurando-o, permitiram-me ainda estabelecer diálogos entre clássico e contemporâneo, ator e personagem, ficção e realidade", explica Ada.

Desta maneira, a ideia de rascunho que sugere a palavra palimpsesto foi levada para a encenação, cujo dispositivo cênico foi pensado para revelar as estruturas ao público como em um ensaio: terreno sempre aberto à possibilidade, à tentativa, ao erro, ao risco. "A Moscou desenrola-se de forma que, tanto os corpos e a interpretação dos atores, o dispositivo cenográfico, os figurinos, os objetos de cena, etc, pretendem desnudar as estruturas, os "esqueletos", a fim de produzirmos imagens e acontecimentos que fazem-se e desfazem-se".

SERVIÇO

A MOSCOU! UM PALIMPSESTO

Teatro Nelson Rodrigues (Av. Rep. do Paraguai 230) | Até 10/11, qui e sex (19h), sáb e dom (18h) | Plateia - R$ 30 e R$ 15 (meia) | Balcão - R$ 20 e $10 (meia)