A violência sem limites
A guerra a partir de diferentes perspectivas e contextos mundiais está encenada no premiado espetáculo 'Esperança na Revolta'
A guerra a partir de diferentes perspectivas e contextos mundiais está encenada no espetáculo "Esperança na Revolta", o primeiro grande sucesso da Confraria do Impossível. Indicado três vezes ao Prêmio Shell de Teatro, incluindo a vitória de André Lemos na categoria de Melhor Direção. A peça retorna ao palco do Teatro Chica Xavier, nesta sexta (29), às 19h30, e permanece em cartaz até 8 de dezembro.
André Lemos fez história ao se tornar o primeiro diretor negro a conquistar o Prêmio Shell de Teatro na categoria de Direção, um feito inédito que abriu portas para que outros artistas negros também alcançassem esse reconhecimento. Sendo assim, a reestreia do espetáculo é mais do que um retorno aos palcos; é uma celebração do legado construído.
"É um momento de celebração e muita emoção estar de volta com o espetáculo que abriu tantas portas para mim e para a Confraria do Impossível. Essa peça marca o início da nossa trajetória e se tornou parte fundamental do que somos hoje", ele destaca.
De forma visceral, "Esperança na Revolta" expõe como a violência vivida em zonas de guerra ao redor do mundo e encontra paralelo na realidade das periferias do Rio de Janeiro, onde a população negra enfrenta diariamente situações de brutalidade intensa. A diretora de movimento e atriz Cátia Costa ressalta essa perspectiva, afirmando que "desde o período colonial, vivemos dentro de uma perseguição e de uma política de genocídio que afeta esses corpos. Na peça, por exemplo, isso é representado pelo personagem Wesley, um jovem negro que traz consigo, desde o início, um medo constante dessa impossibilidade ou impotência de sobreviver", conta.
Sobre o palco, os atores contam, cantam, jogam, dançam, tocam e vivem narrativas de sobrevivência em meio ao caos. A partir de uma história que ultrapassa os limites geográficos e culturais do nosso país, o que está em jogo nesse espetáculo é o ser humano diante da violência de seu tempo e como ele reage ou sobrevive a isso. E assim, o espetáculo demonstra que a guerra não atinge apenas alguns ou um determinado povo e sim todos, em diferentes escalas. De acordo com André, o objetivo é que o público enxergue a realidade com um olhar mais crítico: "Queremos que as pessoas percebam que a guerra e a opressão não são naturais, mas sim impostas por poderes maiores, movidos por interesses econômicos e manipulação; que essa experiência traga uma consciência crítica e inspire uma resistência coletiva", frisa.
O espetáculo também traz consigo a força de uma trajetória que foi interrompida pela pandemia, mas que agora retorna com ainda mais vigor. Segundo André, "Em 2020, 'Esperança na Revolta' estava em ascensão, ganhando prêmios e iniciando uma turnê, quando tudo foi interrompido. Retornar com esse espetáculo é dar continuidade ao que começamos", afirma.
"Esperança na Revolta" é realizado pela Confraria do Impossível, uma Empresa de Arte Negra, fundada em 2010, comprometida com a descolonização do pensamento social. O Terreiro Contemporâneo, premiado em 2020, é um espaço afrocentrado para expressão artística e educação. Com colaborações de destaque e produções premiadas, como "Esperança na Revolta", a cia promove a diversidade e a justiça social.
SERVIÇO
ESPERANÇA NA REVOLTA
Teatro Chica Xavier - Terreiro Contemporâneo (Rua Carlos de Carvalho, 53 - Centro)
De 29/11 a 8/12, às sextas e sábados às 19h30, domingos às 18h)
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia)