Por Cláudia Chaves
Especial para o Correio da Manhã
As emoções em todas as suas formas pode ser um instante na alegria de ser ver um bebê tentando caminhar; o ódio quando um motociclista atravessa o sinal da contramão; a risada espontânea ao se ver um filme. Mas o melhor da vida é quanto se tem uma relação duradoura, um afeto profundo, um companheirismo de se estar ao lado do outro é isso se absolutamente. Falamos daqui da amizade, de uma relação que nem sabemos definir, algo tão profundo, alegre, compensatório.
É dessa situação rara, mas a melhor que se pode ter que trata a premiada "A Vida Passou por Aqui", de Claudia Mauro. Estão no palco Claudia (Silvia) e Édio Nunes (Floriano), um autor visceral, intenso, capaz de fazer desde um infantil musical a uma densidade dramática como Ismael Silva em "Professor do Samba".
Os personagens, por si só, já são arquétipos da condição humana: Silvia é professora, casada, vida mais ou menos; Floriano é dos serviços gerais, mora na trabalho. Ela esconde as suas angústias para baixo do tapete e Edio explode em busca daquilo que é capaz: escrever.
Contada em flashback, a estrutura é como ver um desfile de escola de samba: você senta, anima-se, dança, entendia-se, levanta, canta, bate o pé, emociona-se e se integra quanto quiser. Apenas dois personagens em cena: um homem, uma mulher, duas classes sociais, dois talentos, duas formas de encarar o mundo. Eros e Thanatos, vida e morte, sucesso e fracasso; crises e superação aparecem como tema em cada episódio.
O texto tem uma densidade absoluta, com a segura direção de Alice Borges, vai num crescendo a cada cena com as atuações primorosas de Claudia e Édio. Para quem gosta de teatro, alegria, belas histórias, A Vida passou por aqui é um dos raros encontros da história do teatro brasileiro: um texto emocionante, dois trabalhos impecáveis e saímos cantando, batendo palminhas pensado nada é pequeno quando a vida vale a pena.
SERVIÇO
A VIDA PASSOU POR AQUI
Teatro Fashion Mall (Estrada da Gávea, 899 - São Conrado)
Até 11/1, aos sábados e domingos (18h)
Ingressos: R$ 100 e R$ 50 (meia)