É véspera de Natal. Enquanto muitas famílias confraternizam, um episódio particular levará ao encontro de dois personagens antagônicos. Ele, um deputado que coleciona malfeitos. O outro, um padre transferido após envolver-se com questões agrárias. O encontro entre eles suscita um debate que trará à tona temas como ética, empatia e princípios morais e religiosos. Tais reflexões permeiam O homem cordial, texto de Roberto Athayde, grande nome do nosso teatro, que ganha nova encenação pelas mãos da diretora Marcia Beatriz Bello.
A montagem é estrelada por Charles Asevedo e Gil Hernández, o Rafa da novela "Volta por cima", da TV Globo). A estreia é nesta quinta-feira (12), no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), com apenas oito apresentações, encerrando-se a poucos dias do Natal. Após as sessões haverá debates com autoridades ligadas aos temas tratados na peça. O convidado da noite de estreia é o deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ).
O texto foi escrito por Roberto em 1990 e motivado pela máxima de que o brasileiro é cordial, defendida pelo historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda (1902-1982) no livro "Raízes do Brasil" (1936). Encenada em 1997, com direção do próprio autor, a peça quebra um hiato de 27 anos longe dos palcos cariocas e chega num momento de polarizações políticas e ideológicas e quando as redes sociais tornaram-se "tribunais" de promoções e cancelamentos.
"O brasileiro é um homem cordial? Desta vez não serão os sociólogos que responderão, mas o público carioca, talvez o maior especialista em cordialidade", celebra o dramaturgo, ele próprio carioca que tem seus 75 anos celebrados pela montagem.
O espetáculo marca também o reencontro de Marcia Beatriz Bello com o texto. Ela o dirigiu em 2003, na Argentina, confirmando a vocação de as obras de Roberto de ganharem o mundo. As apresentações aconteceram na capital argentina, Buenos Aires, e em Córdoba, segunda cidade mais populosa daquele país.
A ideia de remontar o texto acompanha a diretora há muito. E começou a ganhar força em 2019. No fim daquele mesmo ano, às vésperas do Natal, chegou a ser apresentada como um happening no apartamento de Roberto no Rio, tendo Gil e Charles no elenco. A pandemia adiou os planos, sem esmorecê-los, numa prova de que o brasileiro é obstinado. Ainda bem.
Roberto Athayde é um dos mais importantes dramaturgos brasileiros da atualidade. Dentre suas muitas colaborações para o teatro está o clássico "Apareceu a Margarida" (1973), de sua autoria. No Brasil, foi estrelado por Marília Pêra (1943-2015) sob a direção de Aderbal Freire Filho (1941-2023). A atriz voltaria a revisitar a peça nos anos de 1978 e de 1994. O texto teve também montagens na França, Argentina e nos EUA, entre outros países.
O dramaturgo também assinou a tradução da primeira montagem brasileira de "O mistério de Irma Vap", de Charles Ludlam, grande sucesso nas carreiras de Marco Nanini e de Ney Latorraca e levada aos palcos, em 1986, sob a direção de Marília Pêra. A encenação chegou a figurar no Livro dos Recordes como a mais longeva temporada teatral no país.
Às apresentações seguirão conversas com autoridades relacionadas aos temas tratados no espetáculo. O deputado Pastor Henrique Vieira, a desembargadora e escritora Andréa Pachá e o sociólogo e professor Fernando Salis são alguns dos nomes já confirmados.
SERVIÇO
O HOMEM CORDIAL
Centro Cultural da Justiça Federal (Av. Rio Branco, 241)
De 12 a 22/12, às quintas e sextas (19h) e sábados e domingos (18h)
Ingressos: R$ 30 e e R$ 15 (meia)