Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Tradição na formação teatral de excelência

Nesta edição os atores residentes mergulham na dramaturgia de Jô Bilac | Foto: Divulgação Cia dos Atores

Desde a Idade Média, a formação de grupos estáveis de teatro nos deram a obra de Shakespeare, Molière, Racine, pois é na companhia que se cria, de forma consistente uma estrutura para artistas desenvolverem projetos a longo prazo. Ao mesmo tempo, a criação de uma identidade própria, um estilo reconhecível como é o caso do Teatro Oficina.

As temporadas regulares, a experimentação, projetos de formação de platéias, a capacitação em todos os níveis fazem de uma companhia um verdadeiro centro de propulsão das artes performáticas. Um dos grupos mais importantes do Brasil, a carioca Cia dos Atores, fundada em 1988, sempre explorou novas formas de expressão teatral.

Ativa em 36 anos ininterruptos de trabalho - formada originalmente pelo diretor Enrique Diaz e pelos atores César Augusto, Marcelo Olinto (figurinista da companhia), Marcelo Valle, Gustavo Gasparani, Bel Garcia, Suzana Ribeiro e Drica Moraes -, a companhia é marcada intersecção entre o teatro e outras artes, pelo modelo de criação colaborativa, em que o processo de ensaio é ferramenta fundamental para o desenvolvimento de cada montagem.

Reforçando a filosofia de trabalho, em 2006, a Cia. dos Atores estabelece sua sede na Escadaria Selarón, na Lapa, no caminho para Santa Teresa. Desde então, o espaço é usado para ensaios, apresentações, treinamentos, e diversas atividades culturais, como mostras de dramaturgia contemporânea e oficinas gratuitas.

Entre os projetos que desenvolve em sua sede, a Cia dos Atores, desde 2020, realiza um ciclo de imersão que esta em sua quinta edição. Com início em plena pandemia, o desafio foi criar estratégias criativas para manter o trabalho ativo, com resultados bastante positivos.

A coordenação do Projeto da Residência é dos fundadores César Augusto e Marcelo Olinto em um trabalho realizado pela Território Cursos e Eventos e pela Cia dos Atores. Durante 9, 10 meses um trabalho que engloba a seleção do grupo de participantes, mais de 20 pessoas. A imersão é mais do que fazer um espetáculo ao final do ano. Há investigação, a escolha da dramaturgo, o mergulho no fazer teatral.

"Estamos na quinta edição deste projeto, coordenado por mim e pelo Marcelo Olinto, desta vez com Inez Viana como provocadora. A dramaturgia de Jô Bilac serviu como bússola investigativa, a partir da qual cenas, peças e apropriações foram desenvolvidas ao longo de nove meses de imersão investigativa", aponta César.

São, em média, 30 residentes por ano, selecionados por meio de um processo de chamada destinado a artistas e profissionais do teatro. Os candidatos apresentam o currículo e uma breve descrição de suas intenções artísticas. "Também são incluídos bolsistas, apoiando causas de gênero e questões raciais. Em cada módulo, contamos com provocadores que enriquecem o processo de imersão, como Pedro Kosovski, Gilberto Gawronski, Stella Miranda, Luiz Arthur Nunes e, nesta edição, a Inês Viana, acrescenta.

Ao longo do projeto, foram explorados autores e temáticas como Nelson Rodrigues, Karl Valentin (em um trabalho online indicado ao prêmio APTR), Oswald de Andrade com os manifestos Pau-Brasil e Antropofágico, Caio Fernando Abreu e, atualmente, Jô Bilac.

A partir da obra de Jô Bilac, os residentes da Sede 2024 desenvolveram, por meio de um processo de criação coletiva, espetáculos e cenas que serão apresentadas em duas programações distintas. A cada semana o público poderá conferir uma apresentação inédita, contemplando alguns dos maiores sucessos do autor. Na primeira semana, serão encenados: "O Matador de Santas" e cenas inspiradas em "Conselho de Classe" e "Fluxorama". Já na segunda semana, o destaque será para "Cachorro!", "Os Mamutes", "Infâncias, Tiros e Plumas", "Alguém Acaba de Morrer Lá Fora", Fluxorama", "Sonho de Miss" e "Savana Glacial".

"Nesses encontros o que me surpreendeu foi a quantidade de artistas competentes, que abrilhantaram os textos de um dos mais importantes nomes na dramaturgia contemporânea, Jô Bilac. Cesar Augusto e Marcelo Olinto são atores e diretores talentosos, que estão completamente comprometidos com o fazer teatral e que conseguem conduzir a Residência de forma horizontal, ou seja, as ferramentas são encaminhadas para que cada cena tenha total autonomia, atingindo com sucesso a proposta da encenação", destaca Inez Viana. "Uma residência sempre é um ponto de partida para novas e novos talentos, para novas ideias de encenação, do ponto de vista da troca com as/os participantes. Recebi com honra e alegria o convite para ser a provocadora desta residência, tão comprometida com a complexidade dos novos tempos", completa.

SERVIÇO

PANORAMA JÔ BILAC

Cia dos Atores (Rua Manuel Carneiro, 12 - Lapa) | De 16 a 18/12, de segunda a quarta-feira (19h)