Por:

Um musical em família

O multifacetado Marku Ribas tem sua trajetória revista em musical | Foto: Pablo Bernardo/Divulgação

A brilhante trajetória do multifacetado Marco Antonio Ribas, mais conhecido por Marku Ribas (1947-2013), mineiro de Pirapora, é contada no espetáculo "Marku Musical", em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB Rio). A vida e a obra, e toda a sua intensidade, a extensa produção que marcou o estilo característico do artista ousado e inovador no cenário da música brasileira que misturou o soul, o samba, o samba rock, jazz, funk, reisado, batuque e ritmos africanos dando mais ritmo e riqueza cultural de sons.

No palco, Marku estará sendo celebrado e muito bem representado pelas filhas do cantor, Lira Ribas e Júlia Ribas, que assinam, respectivamente, a direção, em parceria com Ricardo Alves Jr., e a direção musical, em parceria com Marcelo Dai. Elas também estarão no palco, ao lado da mãe e esposa de Marku, Fatão Ribas. O elenco conta, ainda, com o músico e ator Mário Broder, o músico nigeriano Ìdòwú Akínrúlí e Gabriel Mendes.

O texto do espetáculo parte de uma autobiografia inédita do artista e de memórias trazidas durante os ensaios pelos familiares. Mario Broder, cantor, compositor, multi-instrumentista carioca, dará vida ao artista nas temporadas do Rio e São Paulo.

"Estou em estado de celebração, pois representar Marku neste trabalho tão rico de referências é um muito significativo. Desde cedo, ele sabia exatamente quem ele era, a sua vocação de grande artista, aquilo que muitos demoram uma vida inteira para encontrar ou morrem procurando. E eu me vejo dessa maneira. Me reconhecendo e buscando me aperfeiçoar. Sem falar no processo de preparação, estar próximo da família, ter acesso a registros únicos, objetos, etc. Tantas coisas que ainda nem foram reveladas sobre o Marku é extraordinário e, ao mesmo tempo, emocionante. Ouvir histórias de família, poder tocar o violão que pertenceu a ele…São partes do processo que a gente leva para a vida toda". Celebra Mario Broder, ator que dá vida ao saudoso artista no musical. Continua na página seguinte

 

Dramaturgia baseia-se em autobiografia inacabada do artista

A irmas Lira e Júlia e sua mãe, Fatão Ribas, estão no elenco do espetáculo | Foto: Pablo Bernardo/Divulgação

O espetáculo revisita as lutas, graças e dilemas de um dos músicos mais importantes e influentes do Brasil, inovador e que sempre buscou resgatar referências ancestrais para valorizar a cultura mesclada pela diáspora de matriz africana. Além de reverenciar a trajetória de Marku. Utilizando elementos ficcionais e documentais, o espetáculo entrelaça teatro, música e cinema, baseado na autobiografia de Marku não publicada, em memórias familiares e em apreciações estéticas de seu legado e percorre a trajetória do artista em suas experiências em outros países, especialmente no Caribe, na América Central, e no continente africano.

"É uma obra que trabalha com uma linguagem que vai do teatro documental ao gênero musical, e uma encenação que mistura imagens captadas ao vivo, teatro e, claro, números musicais. "Estou feliz com o convite da família Ribas para dirigir 'Marku Musical'. Marku é um dos grandes nomes da música popular brasileira", diz o diretor Ricardo Alves.

O projeto propõe, uma reflexão sobre as culturas originárias e ribeirinhas dos interiores do Brasil e a troca cultural de matriz africana baseado em anotações deixadas pelo próprio Marku e um rico acervo de imagens e documentos que possibilitam levar para o teatro, a sua visão, seu olhar sobre as concepções de tradição, autoria e criatividade negra diante dos estereótipos impostos pelas indústrias fonográficas e de entretenimento. Lira Ribas, filha de Marku e diretora do espetáculo, fala do quanto é significativo para ela e sua família revisitarem essas memórias:

"É muito tocante para a gente, enquanto família, e uma família de artistas, após 10 anos da passagem de Marku, fazer um trabalho e falar sobre a força do homem preto africano trazia consigo e a força de um homem preto brasileiro que morou na Martinica e visitou a África, evidenciando essa trajetória e suas raízes em seu trabalho e percorrer um processo com a estreia de um espetáculo sobre a vida e a criação dele. E mais do que isso, é muito significativo também esses artistas estarem no palco juntas. Eu, a minha irmã Júlia e a minha mãe, Fatão, com a direção de Ricardo Alves Júnior, grande parceiro de muitos trabalhos comigo", destaca Lira Ribas.

Lira, aliás, relembra que o processo de pesquisa começou com a autobiografia de Marku, que chama "Marku por Marco Antônio", que é uma autobiografia que foi escrita há alguns anos, antes do artista falecer, e que ele deixou inacabada. "As memórias dele, o que ele sentia e vivia, seus questionamentos, tudo foi aproveitado desse material que ele mesmo produziu, escreveu e utilizamos com fidelidade até o momento em que ele conhece a minha mãe, no momento que ele casa e tal, e depois dessa parte tinham fragmentos, partes que ele colocava de memórias, mas não numa ordem cronológica. Fomos revirar todo o acervo, que a gente, enquanto família, tem na nossa própria casa, uma salinha que a gente reservou para guardar o material dele.

A diretora do musical recorda que o pesquisador pernambucano Rafael Queiroz foi até Belo Horizonte e fez um levantamento do material sobre Marku, produziu um verdadeiro dossiê para mostrar muitas coisas que seriam relevantes e importantes a serem utilizadas na construção do espetáculo.

"A partir desse material de pesquisa do Rafael, no acervo da família, mais a autobiografia e as memórias, tanto da família quanto de amigos, começamos a estabelecer uma ordem cronológica. Até como filha, é muito interessante eu pensar que foi a primeira vez que eu vi a vida do meu pai. É uma outra perspectiva, enxergar de fora", diz Lira.

Para Lira Ribas, "é importante, é um revisitar, a gente vai vivenciando várias coisas, algumas situações que eu não vivi, que eu sabia por memória e tal. Mas, um dia, nós, elenco e direção, sentamos e fizemos um levantamento dessa história toda do Marku e todas as etapas e camadas. Conseguimos levantar coisas que a gente achava que seria interessante, como dramaturgia. E é isso, esse curioso foi a primeira vez que consegui ver a vida do meu pai, que é o personagem contado do início ao fim, e ver a grandiosidade, de fato, do trabalho dele como artista, mas também como pessoa, entender o quão família ele era, assim como que a vida dele é pautada em cima da paixão e amor pelo trabalho dele e pela família".

"É muita coisa para se contar num espetáculo, nem a própria autobiografia dele comporta, consegue absorver tudo que ele deve ter vivido e entregado, mas a gente tentou entender dramaturgicamente o que era interessante das pessoas saberem como uma contação de história mesmo. São muitas datas, muitos nomes, episódios, tudo é muito interessante na vida dele. O público vai ter a chance de poder conhecer mais sobre Marku Ribas como as vivências dele em cada local que ele passou, viveu, produziu... Como a sua Pirapora (MG) cidade natal dele, as viagens internacionais para Martinica e New Orleans; a ida dele à França, África, que é essa terra-mãe onde que ele busca toda a sua ancestralidade, falar sobre a família, sobre os ancestrais, as pessoas antes dele, os avós, a avó indígena que também estabelece muito o que ele deveria ser depois, enquanto artista, então dessa forma a gente foi entendendo que seria interessante de contar", comenta Lira.

SERVIÇO

MARKU MUSICAL

Teatro I - Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Primeiro de Março, 66 - Centro)

Até 2/2, de quarta a sábado (19h) e domingo (18h)

Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)