Crônicas do submundo
As obras 'Diário de um Ladrão', de Jean Genet, e 'Saint Genet', de Jean Paul Sarte, inspiram a dramaturgia de 'Marginal Genet', espetáculo escrito e dirigido por Francis Mayer
Após a montagem do polêmico "Pasolini no Deserto da Alma", o diretor Francis Mayer faz incursão em nova biografia. Desta vez vai encenar o texto "Marginal Genet", dramaturgia que criou sobre a vida do transgressor escritor francês Jean Genet (1910-1986) livremente inspirada nas obras "Diário de um Ladrão", do próprio Genet, e "Saint Genet" de Jean-Paul Sartre (1905-1980). O espetáculo faz sua estreia nesta quinta-feira (2), às 20h, no Cine Teatro Joia, em Copacabana.
O texto destaca o relacionamento de Jean Genet com quatro personagens, dentre todos citados na sua obra autobiográfica "Diário de um Ladrão" que continua a gerar polêmica até hoje. Thiago Brunner interpreta Genet e no restante do elenco temos Fernando Braga (Renê, um garoto de programa), Vinícius Moizés (Bernardini, comissário de polícia secreta), Yago Monteiro (Lucien, um mendigo) e Samuel Godois (Charlotte Renaux, cantora).
"Marginal Genet" é um convite ao submundo dos marginalizados, que o o escritor conheceu de perto. Ele sobreviveu pelas ruas de Paris, sendo preso diversas vezes na juventude por roubo, vivendo como mendigo, sustentando-se como ladrão.
No espetáculo, o espectador terá acesso a intimidade de um personagem transgressor com recorte focado nos seus momentos mais intensos, regados a momentos de lirismo. Com linguagem poética e visceral, o texto propõe uma conversa com o seu público, a quem o protagonista autoriza uma imersão em seu universo particular abrindo o seu diário, compartilhando histórias de seus encontros e amores com seres que costumavam viver à margem da sociedade, elevando-os à categoria de heróis.
De Jean Genet, Francis Mayer já produziu "Querelle", em 1989, no Teatro Dulcina, lançando Gerson Brenner como ator, tendo Rogéria no elenco; e "Alta Vigilânia", em 1997, no Teatro Candido Mendes, com Carlos Machado, Jonathan Nogueira e Luka Ribeiro.
Considerado dono de uma imaginação febril e alegórica, Jean Genet cultuava a valorização do prazer, da beleza e do humano. E recriou em peças e romances a mesma marginalidade radical que caracterizou a sua vida, como, "As Criadas", "Querelle", "O Balcão", "Nossa Senhora das Flores", "Alta Vigilância", "Os Negros". Sendo um escritor de combate, despertou admiração em um grupo de intelectuais como Jean-Paul Sartre, Albert Camus (1913-1960) e Jean Cocteau (1889-1963) que, com sua intervenção, salvou-o de uma prisão perpétua que o levaria à morte.
SERVIÇO
MARGINAL GENET
Cine Teatro Joia (Av. Nossa Senhora de Copacabana, 680)
De 2 a 31/1, às quintas e sextas (20h)
Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia)