Uma aventura na selva do machismo
Homens provam do próprio veneno com as brincadeiras da atriz e palhaça Rafaela Azevedo no solo 'King Kong Fran'
Indicada ao Prêmio do Humor de Melhor Performance, Melhor Espetáculo e Melhor Texto e Direção, o espetáculo cômico "King Kong Fran" retoma temporada no Rio com apresentação única na próxima terça-feira (14), às 20h, no Teatro Riachuelo. A montagem comemora os dois anos em cartaz e a marca de 100 mil espectadores.
Num misto de cabaré com circo e show de mulher-gorila, Fran diverte o público virando ao avesso os estereótipos do feminino: com humor e ironia, inverte a lógica machista e brinca com a plateia fazendo com que os homens 'provem do seu próprio veneno'.
Neste solo a imagem do gorila gigante é a metáfora usada pela atriz e palhaça Rafaela Azevedo, idealizadora do projeto, para falar de sexualidade e distinção de gênero na construção social. A tradicional atração circense "Monga" (ou Mulher Gorila) também é referência para a criação.
A personagem-título convida o público a conhecer o avesso dos estereótipos do feminino, invertendo de maneira cômica e irônica a lógica machista e fazendo com que os homens provassem - literalmente - do seu próprio veneno.
"A Fran não se identifica com nenhum padrão feminino, enquanto palhaça está à margem de tudo isso que é estabelecido. Ela Mostra por meio do exagero cômico, da ironia, da troca de papéis de gênero o quão absurdo são os acordos e símbolos construídos socialmente.", destaca Rafaela, que assina a dramaturgia e direção em parceria com Pedro Brício. O trabalho conta ainda com a direção musical da cantora e compositora Letrux
O espetáculo reúne assim a experiência de Rafaela na linguagem cômica e a irreverência e originalidade de Letrux em suas canções com a maestria com que Pedro cria o universo inteligente, crítico e poético de seus personagens.
"Alegorias são formas ancestrais de se contar histórias. Como modo de expressão, interpretação de representar pensamentos, ideias, qualidades sob forma figurada, quando utilizada nas artes performática é capaz de transformar algo que, poderia ser banal, em uma mensagem de absoluta força. É o que se dá, de forma competente, neste solo com atuação de Rafaela Azevedo", destaca Cláudia Chaves, crítica de teatro do Correio da Manhã.
"Rafaela tem se dedicado à chamada arte da palhaçaria, que é muito além daqueles clássicos circenses, nos quais o erro, a trapalhada e o desacerto exagerados são a base da graça. A partir do mito do grande gorila, que é capaz de mover, literalmente, céus e terras, para ficar com o objeto de sua paixão sexual, a atriz compõe um painel dos horrores que os homens cometem nos relacionamentos com mulheres", destaca Cláudia.
Pedro Brício, premiado diretor, junta-se à Rafaela no texto e na direção para fazer em cenas muito curtas, contundentes que não deixam nenhum ponto das questões da dominação masculina de fora. Sexo, conquista, vida a dois, trabalho, tudo está lá na, aparentemente, leve e solta atuação de Rafaela. E como em toda obra bem construída, com base na alma circense da mágica e da ilusão, o que é apresentado é grave, dolorido e causa dor.
"O resultado é que, ao invés de recorrer ao comum expediente em obras de escrita de si, que é falar na primeira pessoa, Rafaela consegue exprimir todo o horror do machismo no Brasil em que duas mulheres são estupradas por minuto. E 'King King Fran' mostra que uma forma de denuncia/exorcismo é arte", completa.
SERVIÇO
KING KONG FRAN
Teatro Riachuelo (Rua do Passeio, 38 - Cinelândia)
14/1, às 20h
Ingressos entre R$ 40 e R$ 120