O que fazer entre dois trabalhos?
Com o solo 'Entressafra', Isabel Guéron estreia como dramaturga e desmistifica o glamour associado ao ofício de atriz
Premiada no cinema, Isabel Guéron estreia nesta quinta-feira (9), às 20h, no Espaço Abu, o solo "Entressafra". Com atuação e dramaturgia da atriz, direção de Cristina Moura e trilha sonora original de Rodrigo Maranhão, figurino de Luiza Marcier e luz de Fernanda Mantovani, o monólogo retrata com humor a vida real de uma atriz, a partir dos dilemas naturais de um cotidiano comum, entre um trabalho e outro.
A profissão costuma ser associada ao glamour, mas Isabel trata de desmistificar o rótulo. Sua personagem é uma atriz de 40 anos que busca se equilibrar nas entressafras, quando não está no palco, gravando ou em turnês, mas com os boletos bancários para pagar, as muitas tarefas e compromissos familiares, as incertezas da vida sem garantias, além de um olhar para ela mesma. "Entressafra é refletir sobre o que somos e o que nos acontece", ressalta a autora, que desenvolveu a montagem a partir do livro homônimo de crônicas que escreveu em 2021, lançado pela Editora Ubook.
""Estava sentada do chão separando as crônicas para o livro e o espetáculo já foi se desenhando para mim. Uma autoficção, sobre uma mulher 40 , mãeatriz, e como se vive dessa profissão. Entressafra é meu estado mais comum da
existência. É a vida acontecendo", resume a artista, que adaptou o livro para a linguagem cênica e faz de "Entressafra" seu trabalho de estreia como dramaturga.
Como a autoficção do livro, com 60 minutos, o espetáculo se encontra com as vivências e reflexões da mulher-atriz-cidadã durante os períodos de entressafra profissional que seu ofício lhe impõe. A comédia retrata situações como uma reunião de pais na escola dos filhos, a descoberta que precisava trocar os óculos, a venda do carro que descortinou, no trajeto do ônibus, o reencontro com o seu entorno - tendo como pano de fundo o retrato da sua cidade partida pelo abismo da desigualdade social do país.
"Em 'Entressafra', Isabel demonstra coragem suficiente para realizar com generosa honestidade a travessia literária. Tão sensível quanto saboroso, seus textos captam instantes da existência, como em uma Polaroid, e nos atinge ao flagrar o que há de mais precário no humano, aquilo que não se confessa, mas escapa", analisa Priscila Gontijo, escritora e dramaturga.
"Com esse olhar de águia, em alta voltagem, ela extrai dos detalhes mais ordinários a sua inusitada grandiosidade. O crachá de acesso ganha dimensão filosófica, assim como o percurso para a manifestação na Cinelândia ou a espera para o sinal abrir, enquanto o filho atravessa de bicicleta. Diferentes tempos se cruzam no instante preciso de apreensão do presente. A experiência de atriz fornece o conhecimento exato daquilo que desequilibra a personagem, sua falha trágica, o deslize que desconcerta e denuncia. Esse lapso é o motor da narrativa. O que importa para Isabel está entre a descoberta e a revelação, na passagem entre o conhecido e o vertiginoso", completa.
Com 35 anos de carreira, Isabel Guéron é carioca, bacharel em Artes Cênicas pela Unirio. É criadora do podcast Isso Não é Noronha, em parceria com a atriz Maria Ribeiro. Como atriz, atuou em mais de 20 espetáculos teatrais, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em turnês pelo país, tem importantes trabalhos na televisão e no cinema, como no filme "Bufo Spallanzani", trabalho que lhe deu, 2001, o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Gramado daquele ano.
SERVIÇO
ENTRESSAFRA
Espaço Abu (Av. Nossa Senhora de Copacabana, 429 - Loja E)
De 9/1 a 2/2, de quinta a domingo (20h)
Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia)