Uma obra-prima da humanidade nos palcos

'Irmãos Karamazov', o clássico de Fiódor Dostoiévski, chega ao Sesc Copacabana com direção de Marina Vianna e Caio Blat

Por

Os Irmãos Karamazov recebe montagem com diálogos ágeis, cenas intensas e um elenco diverso

Uma família desestruturada atravessada por paixões, disputas financeiras, dilemas existenciais e um pai perverso. Esta poderia ser a trama de uma nova série ou filme, mas foi eternizada no romance "Os Irmãos Karamázov", publicado em 1880 pelo celebrado autor russo Fiódor Dostoiévski. Com adaptação de Caio Blat e Manoel Candeias, o livro - considerado por Freud obra-prima da humanidade - chega aos palcos em espetáculo inédito com temporada carioca no Sesc Copacabana.

Dirigida por Marina Vianna e Caio Blat, a montagem traz diálogos ágeis, cenas intensas e um elenco diverso. "Sabíamos de cara que não seria possível dar conta do romance inteiro, então o primeiro desafio foi entender o que é essencial dessas mil páginas pra gente conhecer a trama e os personagens", conta Caio. "A nossa adaptação fez uma opção radical de seguir só os três dias em que a tragédia se desenvolve. A gente acreditou que a partir da urgência e da loucura dos personagens nesses três dias, é possível conhecer a personalidade de cada um. A partir daí, o desafio foi sintetizar numa peça rápida, vertical e vertiginosa os principais temas, e revelar a alma de cada um dos personagens", completa.

O elenco é formado por Babu Santana, Luisa Arraes, Sol Miranda, Nina Tomsic, Pedro Henrique Muller, Lucas Oranmian, além dos diretores Caio e Marina, que também atuam. Na encenação, a escolha do elenco não se ateve ao gênero dos artistas em relação aos personagens descritos. "Dostoiévski é, se não o maior, um dos maiores autores sobre a alma humana. São questões que não poderiam ser restritas a um gênero. Então a gente quis borrar essas fronteiras, mas as mulheres não estão interpretando homem, e os homens não estão interpretando mulher. Aqui são atores e atrizes fazendo seres humanos. O que prevalece sobre um personagem não é se ele é homem ou mulher, mas sim o que ele está buscando, qual é sua ânsia, qual é sua fúria. São questões de cada ser humano", explica a atriz Luisa Arraes.

Abismo social, patriarcado e autoritarismo em cena

Ambientado na Rússia pré-revolucionária, o espetáculo leva ao palco temas atemporais como culpa, justiça, autoritarismo e a busca por libertação de figuras opressoras, simbolizada no desejo dos filhos de destruir o pai corrupto. O espetáculo explora essas questões com linguagem acessível, aproximando-se dos temas que assolam a sociedade brasileira. "Todos os aspectos sociais da Rússia czarista do texto – o abismo social, o patriarcado, o autoritarismo, a religião decadente que explora e ilude o povo – podem ser perfeitamente compreendidos pelo brasileiro hoje. A gente não precisou fazer nenhuma transposição, nem nenhuma grande pesquisa sobre a Rússia czarista, todos os símbolos que estão na peça são facilmente reconhecidos por qualquer plateia", observa Caio Blat.

Além do elenco, estarão em cena os músicos Arthur Braganti (também diretor musical) e Thiago Rabello; as artistas intérpretes de libras Juliete Viana e Maria Luiza Aquino; e Sofia Badim, assistente de direção que também apoia o elenco, compondo um grupo heterogêneo de 13 atores que se revezam para contar essa história, ora em coro, ora individualmente.

A adaptação é fruto de 10 anos de estudo de Caio Blat e Manoel Candeias sobre a obra de Dostoiévski e o romance, além de quatro meses de um intenso processo criativo, com o elenco e o grupo de artistas envolvidos para a realização do espetáculo. Isabela Capeto assina a direção de arte e o figurino; Amália Lima, a direção de movimento; Arthur Braganti, a direção musical e trilha sonora original; Gustavo Hadba e Sarah Salgado, o desenho de luz; Moa Batsow, a cenografia; Raissa Couto, a acessibilidade criativa; e a direção de produção de Maria Duarte.

Embora hoje seja considerado erudito, Dostoievski foi um escritor popular e acessível. O romance Os Irmãos Karamazov foi publicado originalmente como folhetim, uma novela em capítulos no jornal. A montagem pretende popularizar o escritor e a sua obra no Brasil.

Segundo Maria Duarte, para se produzir um espetáculo para o grande público, além da proposta artística da encenação, é preciso pensar na acessibilidade de fato. "É isto o que me move no projeto: realizar um espetáculo realmente acessível. Isso implica olhar para a acessibilidade não como um problema a ser resolvido, e sim uma lente a mais para os criadores, que inspira e amplia possibilidades. Essa foi minha proposta para toda a equipe. Quis trazer intérpretes atrizes para a cena com o elenco, e não tradutores de Libras numa lateral do palco, o que abriu uma explosão de ideias no processo", defende.

SERVIÇO
OS IRMÃOS KARAMAZOV
Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160)
Até 25/1, de quarta a domingo (20h)
Ingressos: R$ 30, R$ 15 (meia) e R$ 7,50 (associado Sesc)