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Com a palavra, Riobaldo

Estudioso da obra de Guimarães Rosa, Gilson de Barros concebeu os três espetáculos da trilogia a partir de recortes do texto original do autor mineiro | Foto: Renato Mangolin/Divulgação

O ator Gilson de Barros volta ao Teatro Futuros - Arte e Tecnologia para apresentar sua "Trilogia Grande Sertão: Veredas", com direção do renomado Amir Haddad. Até domingo (23), sempre às 19h, o público poderá conferir as três montagens: "Riobaldo" (sextas-feiras), indicado ao Prêmio Shell 2023 nas categorias de Melhor Dramaturgia e Melhor Ator; "No Meio do Redemunho" (sábados); e "Julgamento de Zé Bebelo" (domingos).

O projeto teve início em 2020 com a estreia de "Riobaldo", que conquistou reconhecimento ao ser indicado ao Prêmio Shell. Em 2022, foi a vez de "O Diabo na Rua, No Meio do Redemunho", ampliando a imersão no universo de Guimarães Rosa. Desde então, a trilogia percorreu diversas cidades brasileiras e chegou ao público internacional em Portugal e Bogotá.

"Li as duas primeiras páginas do 'Grande Sertão' várias vezes até perceber que aquela 'língua' tinha tudo a ver comigo. O resto da narrativa devorei em segundos, segundo minhas sensações. Aprendi a ler, aprendi a língua, lendo este romance portentoso no original", revela Amir Haddad. "Até hoje me orgulho de ser conterrâneo e contemporâneo de Guimarães Rosa. E tenho certeza de que qualquer leitor estrangeiro que ler o livro traduzido jamais lerá o que eu li. Assim como jamais saberei o que lê um inglês quando lê Shakespeare. Os realmente grandes são intraduzíveis", reforça.

A concepção cênica do espetáculo aposta na simplicidade para evidenciar a força da narrativa roseana. "O espaço cênico minimalista, com poucos elementos visuais e sonoros, foi concebido para potencializar a história e as questões universais que atravessam a narrativa", destaca Haddad.

Gilson de Barros, que há anos se dedica ao estudo da obra de Guimarães Rosa, fala sobre sua imersão no personagem e no universo roseano: "Interpretar Riobaldo tem sido meu trabalho e minha dedicação. A cada releitura do livro, cada temporada da peça, a cada curso que participo, vou aumentando a compreensão da obra", garante.

E o ator diz encarar o desafio com profundo respeito: "O objetivo é traduzir a prosa roseana para a linguagem do teatro. Pretensioso, eu sei. Mas não imagino outra forma de enfrentar essa obra-prima, repleta de brasilidade. Por fim, registro a honra de estar no palco com o suporte de João Guimarães Rosa, Amir Haddad, Aurélio de Simoni e todos os colegas envolvidos nessa montagem", destaca.

Em "Riobaldo", o personagem central do romance "Grande Sertão: Veredas", o ex-jagunço Riobaldo relembra seus três grandes amores: Diadorim, Nhorinhá e Otacília. O incompreendido amor por Diadorim, o amigo que lhe apresentou a vida de jagunço e lhe abriu as portas do conhecimento da natureza e do humano, levando-o ao pacto fáustico; o amor carnal e sem julgamentos pela prostituta Nhorinhá; e o amor purificador por Otacília, a esposa, que o converteu em 'homem de bem'.

Já em "No Meio do Redemunho", o ex-jagunço, hoje um velho fazendeiro, conversa com um interlocutor (o público). Nesse encontro, cheio de filosofia, ele conta passagens de sua vida e reflete sobre a dialética: bem e mal, Deus/diabo. Durante a narrativa, o personagem se vale de várias histórias populares, para questionar: "o diabo existe?"

O terceiro espetáculo, "O Julgamento de Zé Bebelo", retrata um dos momentos mais emblemáticos de "Grande Sertão: Veredas", onde um chefe jagunço, ao ser derrotado, exige um julgamento justo, desafiando as tradições violentas do sertão.

Com um olhar atento à complexidade da justiça e da moral no sertão, a trilogia propõe uma experiência imersiva, conduzindo o espectador pelo universo poético e filosófico de Guimarães Rosa.

SERVIÇO

TRILOGIA GRANDE SERTÃO: VEREDAS

Futuros - Arte e Tecnologia (Rua Dois de Dezembro, 63 - Flamengo)

Até 23/2, de sexta a domingo (19h)

Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia)