Por: Affonso Nunes

Unidos da Viradouro: uma ode à resistência afro-indígena

Malunguinho foi o líder da resistência no quilombo de Catucá, que reunia pretos e índios | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Campeã do último carnaval, a Unidos do Viradouro aposta na resistência afro-indígena para chegar ao bicampeonato. Com o enredo "Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos", a escola de Niterói apresenta a história de João Batista, conhecido como Malunguinho, uma entidade que se manifesta como Caboclo, Mestre ou Exu/Trunqueiro, que se tornou símbolo de luta e liberdade no quilombo do Catucá, em Pernambuco, no século XIX.

Líder do quilombo do Catucá, Malunguinho se tornou figura mítica e espiritual, representando a fusão das culturas africana e indígena. Desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, o tema retrata a trajetória da entidade como um mensageiro que transita entre três mundos: o físico, o espiritual e o mítico. A narrativa do desfile aborda sua luta pela liberdade, sua perseguição implacável pelas autoridades da época e sua transformação em uma entidade reverenciada até os dias atuais.

O enredo também celebra a resistência do quilombo do Catucá, um dos principais focos de luta contra a escravidão no Nordeste do Brasil. A escola promete uma abordagem rica em simbolismo, destacando a espiritualidade, a ancestralidade e a força daqueles que lutaram pela liberdade.

O abre-alas da apresenta quilombo do Catucá, com suas palhoças, matas e a resistência de seu povo.

 

ENREDO:  "Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos"

Acenda tudo que for de acender,
Deixa a fumaça entrar,
Sobô nirê mafá, sobô nirê,
Evoco, desperto, nação coroada,
Não temo inimigo,
Calopo na estrada, a noite é abrigo,
Transbordo a revolta dos mais oprimidos,
Eu sou caboclo da mata do catucá,
Eu sou pavor contra tirania,
Das matas, o encantado,
Cachimbo já foi facão amolado,
Salve malungueiro, juremá.

Ê juremeiro, curandeiro oh!
Vinho da erva sagrada, eu viro num gole só,
Catiço sustenta o zeloso guardião,
Capangueiro da jurema,
Não mexe comigo não.

Entre a vida e a morte, encantarias,
Nas veredas da encruza, proteção,
O estandarte da sorte é quem me guia,
Alumia minha procissão,
No parlamento das tramas,
Para os quilombos modernos,
A quem do mal se proclama,
Levo do céu pro inferno,
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado,
Kaô, consagrado,
Reis malunguinho encarnado,
Pernambucano, mensageiro, bravio.

O rei da mata que mata quem mata o Brasil.

A chave do cativeiro, virado no exu trunqueiro,
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó,
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo,
Porque nunca ando só.

Autores: Paulo César Feital, Inácio Rios, Marcio Andre Filho, Vitor Lajas, Vaguinho, Chanel e Igor Federal