Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Um endereço de efervescência

O ator e diretor Cesar Augusto diante da Sede da Cia. dos Atores, na Lapa, que promove mais uma edição de sua residência artística, o projeto Sede Viva | Foto: Renato Mangolin/Divulgação

Existe no Rio de Janeiro um grupo de artistas premiados que inquietos, criativos, estão, desde sempre, à frente de projetos inovadores. A Cia. dos Atores tem como principais objetivos a experimentação, a renovação da linguagem cênica e a pesquisa contínua no teatro brasileiro. Criado em 1988, este coletivo explora novas formas de interpretação e dramaturgia, com um forte trabalho colaborativo entre atores, diretores e dramaturgos.

"Sede Viva", o mais novo projeto da Cia. Dos Atores, reúne espetáculos, leituras e festas até o fim de 2025, com curadoria do ator e diretor Cesar Augusto, no casarão multicultural que o grupo ocupa há quase 20 anos na Lapa.

A principal atração da abertura, entre os dias 14 e 16 de março, é a montagem "Panorâmica Jô Bilac", reunião de sucessos da obra do dramaturgo carioca, desenvolvida por participantes do projeto Residentes da Sede ao longo do ano passado.

No dia 26 de março, a programação segue com a leitura de "Breves Recortes sobre uma Surdez Coletiva". O texto de Eduardo Hoffamann aborda uma série de fragmentos cotidianos envolvendo personagens em diferentes situações de não-escuta típicas da nossa contemporaneidade. Já nos dias 28 e 30 de março, é a vez do espetáculo "Uma Ação contra um Terceiro", com concepção e direção de Ricardo Santos. Resultado de uma residência artística, a montagem pretende, por meio de uma provocação poética, fazer refletir sobre os caminhos da maldade humana em suas diversas formas.

"A Sede da Cia dos Atores está prestes a alcançar a maioridade e, neste ano, com a programação Sede Viva, viabilizada pelo fomento Pró-Carioca, temos a oportunidade de ampliar nossa proposta, tornando-a mais diversa e inclusiva", destaca Cesar Augusto, que falou com exclusividade ao Correio da Manhã.

"Mais do que um espaço criado pela Cia dos Atores, a Sede se consolidou como um ponto de encontro para nova geração de artistas, promovendo formação, troca de experiências e impulsionando a cena carioca", acrescenta.

Como a sua dedicação à formação (o mestrado) te inspirou para esse projeto?

Cesar Augusto - As residências, que agora entram em seu sexto ciclo, foram o ponto de partida para pensar uma metodologia e trazer uma reflexão sobre a troca de experiências. Foi essa vivência que me levou a aprofundar a experiência acadêmica no programa de pós-graduação da Uni-Rio, no mestrado profissional em Ensino de Artes Cênicas. Esse percurso tem sido um estímulo fundamental também para minha prática docente, já que integro o time de professores da graduação da CAL. Minha trajetória como ator e diretor profissional sempre esteve ligada à formação. De certa forma, nós, da Cia dos Atores, estamos intrinsecamente conectados à pesquisa e ao desenvolvimento das potencialidades teatrais. Refletir sobre essas práticas é essencial para minha evolução artística e pedagógica. Afinal, ensinar é uma das formas mais eficazes de reciclar e aprofundar o próprio aprendizado.

Como é escolhido o autor das Residências?

Escolhas artísticas são sempre subjetivas e nem sempre partem apenas de mim ou do Marcelo Olinto, que também é membro da Cia e coordena as Residências comigo desde a primeira edição. Desta vez, a escolha surgiu a partir da produtora Território, de Breno Sanches e Carol Godinho, que realiza este projeto conosco. Achamos muito pertinente trabalhar, este ano, com a dramaturgia de Grace Passô como inspiração para nossos estudos e criações. É importante destacar que os residentes possuem perfis diversos: atores, dramaturgos, diretores de arte, pesquisadores. A residência não se restringe apenas à interpretação; aprofundamos esse conceito, expandindo-o para o universo da criação teatral. Isso pode ocorrer por meio da apropriação temática, da construção de uma cena ou de uma peça, compreendendo que o trabalho interpretativo se amplia para aspectos que ampliam o universo dramatúrgico e que fundamentam as escolhas estéticas e práticas.

E o papel do provocador nesse processo?

É sempre importante estabelecer elos de contato, não necessariamente pessoais, mas um provocador deve direcionar o foco para o universo autoral do artista escolhido para o ano. A partir da dramaturgia de Grace Passô, convidamos dois artistas cujas criações trazem analogias inspiradoras para o nosso processo: Suzana Nascimento ("Em Nome da Mãe" e "Calango Deu") e Pedro Emanuel ("Língua" e "Nem Todo Filho Vinga").

SERVIÇO

SEDE VIVA - Panorâmica Jô Bilac

Sede da Cia dos Atores (Rua Manuel Carneiro, 12 - Escadaria Selarón, Lapa)

De 14 a 16/3, sexta e sábado (20h) e domingo (19h)

Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia)