Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Susana Vieira: 'Ninguém com 20 ou 50 anos pode me influenciar'

Susana Vieira volta aos palcaos cariocas, espetáculo em que sua autobiografia se mistura à tirânica Lady Macbeth | Foto: Nana Moraes/Divulgação

Uma das mais importantes atrizes brasileiras, Susana Vieira está de volta aos palcos na peça 'Lady', texto inédito de Vana Medeiros, sob direção de Leona Cavalli e produção de Edgard Jordão. A dramaturgia mistura elementos da autobiografia de Susana com Lady Macbeth, um das mais poderosas personagens shakesperianas. A peça acaba de fazer sua estreia nacional em curtíssima temporada no Teatro Casa Grande, até o dia 26, e segue para São Paulo. Susana depois percorrerá algumas cidades brasileiras e levará a peça para Portugal, ainda em 2025. Nesta conversa com o Correio da Manhã, a atriz fala deste projeto.

Como é a história por trás da montagem deste espetáculo?

Susana Vieira - O projeto é do Edgar Jordão, que é o meu produtor de outros espetáculos e que sabia do meu sonho de montar Lady Mac, porque sempre quis montar um Shakespeare e queria montar Lady Mac. Aí Edgar foi catar, catar, catar, catar, catar, e teve uma ideia. Depois que saiu o meu livro "Senhora do meu Destino", as pessoas gostaram muito dos textos e das historinhas de como eu como, escrevo, e não ficou um livro chato, ficou um livro interessante de várias passagens de teatro, de televisão. Aí o Edgar teve a ideia de começar a procurar alguém, para escrever uma peça que misturasse a Lady Mac e o livro. Não dá para montar um espetáculo shakespeariano hoje em dia no nosso país. E ele conseguiu encontrar uma pessoa que escrevesse como se fossem duas mulheres conversando: Lady Mac com a Susana Vieira. Contratou a Vanna, que leu meu livro e misturou partes dele com trechos de 'Macbeth" que tivessem algo a ver com a linguagem do livro. Então, eu faço o papel de uma atriz, que sou eu mesma, se preparando para interpretar Lady Mac, e vou conversando com o público enquanto for ensaiando. Eu estou ensaiando Lady Mac, mas de vez em quando eu paro e converso com a plateia sobre a minha vida.

Mas "Macbeth" é uma tragédia, uma das mais violentas de Shakespeare. Como a Susana se encaixa nisso?

É um espetáculo leve, alegre, divertido, e logicamente que tem momentos de ternura, momentos de saudade, e tem uma música fantástica, maravilhosa, que acompanha todo o espetáculo, nas horas de noite, nas horas mais calmas e nas horas da Lady Mac. São músicos fantásticos, são orquestras sinfônicas internacionais tocando, e a alegria foi essa, que conseguimos fazer um espetáculo moderno e sem grandes histórias. A minha história pode não parecer grande para os outros mas, para mim, é tão grande, uma história bem interessante. E aí foi assim que nasceu a "Lady". Não colocamos nem "Lady Mac", nem "Lady Suzana", por se tratar de uma mistura.

Como foi a escolha de Leona Cavalli para dirigir essa Lady?

A Leona, faz pouco tempo, queria fazer um documentário comigo. Ela me achava interessante, uma atriz que merecia ter um documentário, e ela se propôs a escrever e a montar comigo, então há tempo que vem demonstrando interesse de fazer um documentário com a Susana Vieira. E a Leona é uma pessoa de São Paulo, tem uma formação acadêmica de teatro, já trabalhou com muitas peças de teatro em São Paulo, com gente muito valorizada, trabalhou com o Zé Celso Martinez Corrêa. Fez a vida da Cacilda Becker. Eu precisava de uma pessoa que me ensinasse a falar o Shakespeare, ensinasse a alma do Shakespeare, me ensinasse um pouquinho, então a minha escolha foi Leona. Amorosa, porque ela era uma pessoa querida e cuidadosa comigo, queria fazer uma biografia em tela. E ao mesmo tempo eu achei que uma mulher me dirigindo ia ser melhor, porque estamos falando de uma mulher, a Lady Macbeth. Nada melhor do que ter uma mulher para entender a cabeça dessas duas pessoas, mulheres. A Lady é uma que enlouqueceu e eu não enlouqueci, mas eu levei uma vida do barulho.

E como é a experiência de estar numa montagem com uma equipe só de mulheres?

Acho ótimo, porque quando a gente está entre mulheres, as mulheres sempre estão meio fechadas hoje em dia, muita competitividade em tudo, na beleza, no corpo, no talento, no homem que se tem. As mulheres estão competindo demais entre elas e uma quer ser mais bonita do que a outra e mais magra, mas enfim, eu não faço competição com ninguém porque consegui chegar até a um lugar que muita gente não chegou. Então, me sinto privilegiada num lugar em que estou. Não há competição com ninguém, adoro, admiro várias atrizes da televisão com que trabalho, adoro atrizes do teatro, adoro. Então, a equipe feminina ajuda quando você está diferente porque o sentimento de uma mulher é muito parecido com outra mulher, é só tirar inveja, a mulher quando não tem inveja da outra sente muito mais. E eu acho bonito dar trabalho para mulheres.

Fale dos figurinos...

A nossa figurinista é Karen Brusttolin. Karen é especial. Então a roupa, o carinho com que ela vai na minha casa, ela me abraça. "Susana, que felicidade de te ver. Você nos representa. Você é uma pessoa que estimula nós mulheres." Então a gente ouve isso de mulher. É para isso que vivi, eu acho, há 80 anos. Não fazendo aula, nem dando, nem sendo, como é que chama aquela pessoa que fala no Instagram, que faz aquelas meninas? Não sei se é influência, sem influenciar ninguém, porque ninguém com 20 anos pode me influenciar, ninguém com 50 também pode me influenciar. Então esse carinho que eu recebo das mulheres, isso me faz muito bem.

SERVIÇO

LADY

Teatro Casa Grande (Avenida Afrânio de Melo Franco, 290 - Loja A- Leblon)

De 13 a 26/3, de quinta a sábado (20h) e domingos (18h) | Ingressos entre R$ 60 e R$ 180