Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Deu match total em cena

'Matilde', a história de uma aposentada que tem a rotina alterada ao alugar um quarto para um ator, segue em cartaz no CCBB RJ | Foto: Divulgação

Depois que surgiram os aplicativos de namoro (ou paquera), match (que pode dizer jogo, combinação) virou palavra corriqueira, que pode ser aplicada às mais diversas situações de encontro. Esse é o caso de "Matilde", uma peça que representa a paixão de quem gosta e e de quem faz teatro. Em todos os pontos de realização, há um enorme acerto na produção de Caio Bucker. Na proposta, na equipe talentosíssima e no resultado que nos enche de prazer.

Idealizada em 2015 por Paulo Gustavo para a atriz Malu Valle, sua primeira diretora, com texto de Julia Spadaccini e direção de Gilberto Gawronski, "Matilde" apresenta a história de uma mulher aposentada de 60 anos que vive em Copacabana e tem sua rotina transformada ao alugar um quarto para Jonas, um ator de 36 anos em busca de sua grande oportunidade.

O tema poderia ser triste, até mesmo cruel, mas Júlia, premiada dramaturga, faz com muita competência algo muito difícil: diálogos curtos, bem humorados, palavras e situações totalmente cotidianas se transformam em teatro como deve ser. O cenário de Nello Marese aproveita o espaço do palco, com as 380 garrafas pet, reutilizáveis que, além da clara contemporaneidade, mostra que o teatro é algo que não se joga fora.

Malu Valle está muito bem no papel de uma julieta aposentada que vê a sorte grande bater à sua porta na figura de um doce e carismático Romeu, na pessoa de Ivan Mendes. O encontro dos dois vai além do encontro amoroso. Há um jogo de sedução, mas são duas pessoas sensíveis, com vontade de viver, de se divertir, de se emocionar.

A direção de Gilberto Gawronski, além de manter perfeitamente o difícil ritmo de comédia, sem cair um segundo, introduz elementos que fazem o espetáculo crescer. "O que mais me deu satisfação dirigir essa comédia, eu acho que foi o fato de ser realmente uma comédia. E assim, me estimulou muito manter a leveza, a delicadeza que o texto propõe e manter, ao mesmo tempo também, como o texto tem indícios de uma distorção, de pegar aquela realidade e conseguir botar uma certa lente de aumento, uma lente distorcida, que pudesse provocar uma teatralidade mais exacerbada", disse ele ao Correio da Manhã.

Provocado a discorrer sobre a característica mais marcante da dramaturgia de Julia Spadaccini, o diretor considera que o texto tem dois lugares. "Ao mesmo tempo que posso tratar com uma comédia de costumes, posso dar um certo estranhamento e isso ajuda até a própria comicidade do espetáculo. O que mais gostei é de lidar a questão da comédia. O texto da Julia trata sobre questões de etarismo, do empoderamento feminino, mas antes de tudo acho que conta uma história de amor, de possibilidade de encontro e muito também na hora que esse casal se encontra através de um texto de teatro e ali o afeto se estabelece, o aspecto verdadeiro", destaca.

O encenador revela ser esta a primeira vez que o encenador trabalha com um texto de Julia Spadaccini. "É uma autora que me deu muito prazer, porque acho que ela tem uma carpintaria teatral muito gostosa de trabalhar e ela escreve com um ritmo já de cena também. Fiquei muito feliz também, assim, porque ela aceitou propostas minhas de mudança de texto", conta. "O que foi alterado, no que seria o texto propriamente, foi que a Júlia coloca a personagem da Matilde como fã de Judy Garland. E aí quis trazer para a Rita Lee, que penso ser uma referência mais próxima de todos nós, mais abrangente, porque ao mesmo tempo que ela é um fascínio para a minha geração, que está hoje nos seus 60 anos, e também é uma figura muito presente no jovem hoje. Então eu acho que é uma figura que dialoga entre os dois personagens e passa a ser um elo de afetividade", argumenta.

SERVIÇO

MATILDE

Centro Cultural Banco do Brasil - Teatro I (Rua Primeiro de Março, 66 - Centro)

Até 13/4, de quintas a sábado (19h) e domingos (18h)

Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)