Há a tradição do menestrel, o cantor e poeta medieval que percorria castelos e vilas, entretendo nobres e plebeus com histórias, poemas e canções. Muitas vezes, acompanhava-se de um instrumento musical. As suas narrativas falavam de feitos heroicos, amor cortês e lendas populares. Esse mundo, às vezes, ressurge, permitindo-nos ver o poder de escutar o artista que, sozinho, nos fala dos sentimentos e nos emociona. Assim é Emílio Orciollo Netto em Também Queria Te Dizer — Cartas Masculinas.
A ideia é engenhosa - e funciona muito bem. O ator encarna, em primeira pessoa, experiências e descobertas de diversos homens, a partir de sete cartas - seis delas retiradas do best-seller "Tudo Que Eu Queria Te Dizer", da autora Martha Medeiros, além de uma inédita, escrita especialmente para o próprio Emílio.
O texto de Marta é fluido e envolvente. A transposição para o palco - seja ele italiano, arena, praça ou rua - é a brilhante disposição de Emilio: apenas ele e uma caixa de som, apresentando as cartas ficcionais que exploram diversas emoções e experiências humanas.
A interpretação de Emílio, sob a direção de Victor Garcia Peralta, dá voz, corpo e gesto aos personagens de cada carta, que estão em momentos decisivos de suas vidas, abordando temas como perdão, desilusões amorosas e relações familiares. O tom confessional e a profundidade emocional refletem a habilidade do ator de captar a complexidade dos sentimentos humanos.
Apesar de serem confissões masculinas, Emílio consegue imprimir uma gama de sentimentos e criar proximidade com o público. Sozinho no palco, essa solidão desaparece quando ele exibe a humanidade que todos temos e que, ao emergir no artista, nos faz sentir vivos. Plenamente.
SERVIÇO
TAMBÉM QUERIA TE DIZER
Teatro Domingos Oliveira (Planetário da Gávea - Av. Padre Leonel Franca 240) | Até 27/4, sextas e sábados (20h30) e domingos (19h)
Ingressos: R$ 50 e R$ 25
