Por: Cláudia Chaves |Especial para o Correio da Manhã

Uma ópera do dia a dia

'As Madames da Feira' destaca-se por seu caráter popular, satirizando o melodrama e o universo da ópera | Foto: Ana Clara Miranda/Divulgação

 

Mesdames de la Halle refere-se àquelas que poderiam ser as vendedoras, peixeiras, floristas ou outras mulheres que trabalhavam no mercado. Essas mulheres são frequentemente retratadas como figuras fortes, trabalhadoras e muito características da vida tradicional parisiense.

"Mesdames de la Halle" é também o título de uma opéra bouffe em um ato composta por Jacques Offenbach, com libreto de Armand Lapointe. A ação se passa no mercado parisiense durante o reinado de Luís XV. As personagens principais são vendedoras do mercado que disputam a atenção do jovem cozinheiro Croûte-au-pot, enquanto este está apaixonado por Ciboulette, uma jovem vendedora de frutas. A trama se desenvolve com situações cômicas e revelações inesperadas, características marcantes do estilo de Offenbach.

A Uni-Rio, por meio de seu projeto de extensão "Projeto Ópera", que há mais de uma década promove a integração entre os cursos de Música e Teatro, apresenta "As Madames da Feira", no Teatro Riachuelo — uma tradução livre da obra de Offenbach. O objetivo principal é proporcionar aos estudantes uma experiência prática e colaborativa na montagem e apresentação de óperas, abrangendo desde obras clássicas até composições contemporâneas.

O projeto conta com a participação da Orquestra Sinfônica da Uni-Rio, sob regência do maestro Guilherme Bernstein, direção cênica de Moacir Chaves e coordenação-geral e direção vocal de Carol McDavit.

O premiado Moacir Chaves, responsável pela direção, compartilha sua experiência em trabalhar com jovens profissionais na montagem. "Há uma disciplina e uma dedicação no universo musical que tem muita utilidade no universo teatral, porque as questões ali são objetivas. A partitura existe, a nota deve ser atingida. O ritmo está dado, ele deve ser seguido. E eu transpus isso para a fala propriamente dita e para os movimentos. O movimento precisa ser limpo, claro, e isso precisa ser atingido. Da mesma maneira que nós entendemos a demanda do maestro, é necessário que essa demanda da direção cênica também seja compreendida e atendida."

Moacir também explica como desenvolveu tecnicamente seu trabalho. "Nas falas, o que eu procurava mostrar era o ritmo necessário àquelas falas, e também a densidade, a potência, porque havia um descompasso entre a potência do som que ouvíamos no canto e aquele das falas. Não era possível que pessoas tão potentes ao cantar tivessem uma dimensão tão reduzida ao falar. Isso é uma questão técnica, que se aproxima do canto, mas que tem suas idiossincrasias. A percepção de que tudo isso é técnica, e que precisa ser muito trabalhado, foi muito bacana. A mistura entre a técnica da fala e certas dimensões do canto, se levadas em consideração, pode ampliar a expressividade da fala."

A coordenadora-geral do projeto, professora Carol McDavit, destaca a importância da iniciativa na formação de plateias. "Em 2007, criei essa disciplina para que os cantores e alunos de canto trabalhassem técnicas de ópera, movimento, voz e teatro. Meu colega Guilherme Bernstein, que dirige a orquestra da Uni-Rio, me procurou e decidimos montar uma ópera. Preparar os alunos mais avançados para o palco profissional foi outro objetivo. A primeira montagem foi Anis Kiki, em 2008, com orquestra completa e colaboração da Escola de Teatro."

Para Carol, há ainda a satisfação de ver o envolvimento de mais de 80 pessoas — entre alunos, técnicos, professores e voluntários de outras instituições de ensino de música. "Esse é um projeto de extensão com adesão de voluntários. O resultado final é ver os egressos fazendo carreira em várias áreas. Nosso dever é esse: educar, oferecer experiências que abrem caminhos".

SERVIÇO

AS MADAMES DA FEIRA

Teatro Riachuelo (Rua do Passeio, 38 - Cinelândia)

Até 13/4, sábado (14h) e domingo (11h)

Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia)