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Luto que escancara segredos

'Tom na Fazenda' volta ao Rio após temporadas bem sucedidas no Brasil e no exterior | Foto: Philot Studio

"Tom na Fazenda" retorna ao Rio para uma curta temporada no Teatro Adolpho Bloch até o dia 30. Sucesso de público e crítica desde a estreia, em 2017, o espetáculo já foi visto por mais de 80 mil pessoas em mais de 450 sessões. Ao longo desses sete anos, consolidou-se como um dos marcos do teatro brasileiro contemporâneo.

A adaptação do texto do canadense Michel Marc Bouchard para os palcos brasileiros tem assinatura de Armando Babaioff, que traduziu e protagoniza a obra, e de Rodrigo Portella, responsável pela direção. Foi Babaioff quem bancou o projeto do próprio bolso, movido por sua convicção artística e amor incondicional ao teatro. "Investi [meu dinheiro] naquilo em que acredito, que é o teatro. O teatro me salvou. Comecei a fazer teatro aos 11 anos, em uma escola pública do Rio. Todo o dinheiro que eu ganhei, eu gastei produzindo teatro. Não tenho nada, não tenho carro, não tenho casa, não comprei nada, por opção, porque eu acredito que a vida do artista é uma jornada", declarou o artor em entrevista recente ao podcast Recife Ordinário.

O retorno do espetáculo ao Rio coroa uma trajetória marcada por reconhecimento dentro e fora do país. Em 2023, a convite do Théâtre Paris-Villette, "Tom na Fazenda" realizou uma temporada de um mês em Paris com sessões lotadas e elogios entusiasmados da crítica francesa, incluindo o jornal Le Monde. No mesmo ano, a peça também esteve em cartaz em São Paulo, repetindo o êxito das temporadas anteriores, com mais de 8 mil espectadores e ingressos esgotados antes do fim de uma temporada de quatro meses.

"É muito importante o que está acontecendo com esse espetáculo, porque ele tem importância na história do teatro brasileiro recente", afirmou Babaioff. Sua atuação no papel-título rendeu os principais prêmios da cena nacional, como o Shell, o APTR e o Cesgranrio, ao lado da direção de Portella, igualmente premiada.

A trama mergulha nas tensões invisíveis entre estranhos e íntimos. O protagonista, Tom, viaja ao interior para o funeral do namorado e depara-se com uma família que sequer sabia de sua existência. Daí se desdobra um jogo de manipulações, silêncios e violências. A encenação reflete esse embate com uma moldura sombria, feita de luz dura, figurinos secos e repetições que transformam o espaço cênico num campo de forças emocionais.

Ao lado de Babaioff, estão em cena Denise Del Vecchio, Iano Salomão e Camila Nhary. O quarteto se entrega a diálogos intensos e cortantes, onde se tenta esconder o que se sente, apenas para acabar revelando o que mais se teme. A direção aposta em uma dramaturgia precisa e num ritmo que mantém o espectador em estado de alerta, diante de uma história que expõe o abismo entre o que se diz e o que se vive.

SERVIÇO

TOM NA FAZENDA

Teatro Adolpho Bloch (Rua do Russel, 804 - Glória)

Até 30/4, às terças e quartas (20h)

Ingressos: Plateia A (terças) - R$ 120 | Plateia B (terças) - R$ 40 | Plateia única (quartas) - R$ 120