Desde crianças, em todas as culturas, sempre surgem narrativas baseadas no whodunit (corruptela de "quem fez isso"). Seja na vida real ou na ficção, descobrir "quem matou" é um elemento mobilizador. O "quem matou Odete Roitman" ainda é o grande atrativo de "Vale Tudo". "Todo Mundo Vai Morrer", do Coletivo Circular, que aproveita os espaços do MAM, combina comédia e suspense de forma inovadora.
Inspirada na técnica de Agatha Christie — na qual a trama se desenvolve num círculo restrito — "Todo Mundo Vai Morrer", texto de Camilo Pellegrini com direção de Breno Sanches, apresenta-se, à primeira vista, como um suspense. Na verdade, o que vemos é, primeiramente, qual a fonte de interesse que cada personagem tem por uma pessoa específica. Essa é a brilhante solução: a mesma figura pode ser odiada e/ou amada por diferentes razões, sempre dependendo do olhar de quem vê. A dramaturgia bem construída já nos conduz diretamente aos temas.
A direção para os personagens estereotipados conta com interpretações de um elenco equilibrado — Bianca Corrêa, Camilo Pellegrini, Carolina Panneitz, Elton Castro, Hugo Souza, Junio Duarte, Malu Costa, Marina Dib, Nathalia Murat e Wesley May — que responde muito bem ao que lhes é proposto.
Um procedimento bastante interessante e pouco usual, justamente por ser difícil: o texto foi desenvolvido com base nas características de cada ator, permitindo que cada um se sinta totalmente integrado ao texto, aos movimentos corporais, ao figurino. Isso cria uma ótima conexão com o público. Assim, a interatividade só cresce e o jogo se torna ainda mais envolvente.
O convite à participação do público começa já com a proposta do ingresso consciente, que evolui para um pequeno drinque inserido no contexto. A itinerância com o grupo de pessoas que se repete permite o cruzamento de temas como desejo, choque de classes, sexualidade, vício, separação, ódio, questões familiares, fracassos, traição e crime. Tudo isso ganha força no cenário de concreto cinzento do prédio do MAM. A tristeza e a morte tornam-se, assim, elementos de alegria ao se assistir a um espetáculo inteligente, criativo e muito bem encenado.
SERVIÇO
TODO MUNDO VAI MORRER
Museu de Arte Moderna (Av. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo)
Até 27/4, sábados e domingos (18h)
Contribuição consciente: valor sugerido a partir de R$ 20